Grid

GRID_STYLE
FALSE
TRUE

Classic Header

{fbt_classic_header}

Top Ad

Últimos chasques

latest

Charla de Peão - por Juarez Miranda

CHARLA DE PEÃO *Juarez Cesar Fontana Miranda Um Chasque Pro Meu Cambicho Hoje, depois da lida campeira, já encilhando um mate na volta ...

CHARLA DE PEÃO

*Juarez Cesar Fontana Miranda

Um Chasque Pro Meu Cambicho

Hoje, depois da lida campeira, já encilhando um mate na volta dum fogo de chão, olhei pros lados da porta do galpão e vi o sol se acrocando num repecho da coxilha enquanto a boieira vinha, a trote largo, soltando as rédeas na boca da noite.
De vereda, uma coplita milongueira se rebolcou no meu peito, foi amadrinhar o chiado da cambona cascurrenta e bailar com a picumã incendiada, num sarandeio abagualado que arrodiando a luz do candieiro, no meio da fumaça dum angico, subia no rumo da quincha do galpão.
Nessa olada, o ronco da cuia me pealou repontando uma tropilha de lembranças caborteiras, que aquerenciadas dentro d’alma teimavam em se desgarrar do meu entendimento e, a lo largo, faziam meu coração aporreado se enforquilhar numa reminiscência redomona que se mandava campo fora só prá retoçar no alpendre e se enfiar rancho adentro, até se aboletar contigo, juntito do fogão a lenha, onde de certo também mateias um chimarrão a preceito.
Uma tenência apinhada de soledades também se abancou comigo e cabresteou meu pensamento até o dia em que te vi, naquele fandango domingueiro. Eu nem te conhecia e tu não sabias da minha existência até bailarmos uma marca chamamecera: “...quando tu me quieras se irán los dolores,renacerán flores em mi corazón...”
Minhas pernas bambeavam mais que taquara verde num temporal; meu coração corcoveava num alçado descompasso, como querendo se desgarrar das maneias do meu peito, enquanto tua cara coloreava como a flor da corticeira na primavera - num suave tom carmesim.
Nossa pele respirava, coladita uma na outra e quando nossos corpos se acolheraram e nossas miradas se entreveraram eu, que só araganeava, resbalei no lajeado da cacimba dos teus olhos, me embebedei com a agua mansa do teu olhar e entonces, meu trotear pelo corredor da vida tomou outro norte.
E eu, que era quera largado e teatino, que até aquele dia nunca quisera alguém que me ajoujasse numa canga; que tinha um medo danado de dar uma rodada numa lomba embalastrada pelos saracoteios de algum cambicho, não tive cancha prá bolear a perna do pingo manhoso e candongueiro que sogueava meu coração passarinheiro prá assentar o facho no manacial dos afetos, que naquela feita já brotavam na sesmaria dos teus abraços.
Quando tua mão palmeou meus dedos descobri a vereda dos meus ventos, bombiei na tua mirada o meu destino e até hoje estamos enrabichados, um embuçalado no olhar do outro e, naturalmente, ainda continuamos carrapateados, batendo estribos no mesmo trote.
Bueno, quando enveredo pros lados do rancho, roseteio o pingo porque meu coração, encharcadito das vontades de estar nos teus costados, veiaqueia uma barbaridade, mas, como só falatório não encangalha tudo o que sinto por ti, vou levando, nos peçuelos, um manojo de flores do campo, prá te dizer gracias por existires e teres surgido na minha vida.
Te amo, prenda minha!
Por isso, todo esse teretetê.

*Escritor e Poeta Nativista
juarezmiranda@bol.com.br
jornaljrcl@terra.com.br

Nenhum comentário