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108 anos do nascimento de Juca Ruivo

JUCA RUIVO AO AMIGO HILTON LUIZ HARALDI, PARCEIRO DE ESTUDOS GAUCHESCOS Paulo Monteiro Certa feita, perguntei ao poeta passo-fundense Vasco ...

JUCA RUIVO
AO AMIGO HILTON LUIZ HARALDI, PARCEIRO DE ESTUDOS GAUCHESCOS

Paulo Monteiro

Certa feita, perguntei ao poeta passo-fundense Vasco Mello Leiria, Capitão Caraguatá, sobre Juca Ruivo. Recebi como resposta um lacônico:
– “Era um tipo estranho que vivia pelos fundos das fazendas medindo terras...”
A afirmação do velho conterrâneo martelou minha cabeça durante três décadas. A explicação para a hermética resposta somente encontrei após ler “Tradição”, o único livro de Juca Ruivo, cuja primeira edição foi publicada em 1957, pela Editora Globo, de Porto Alegre, sob o patrocínio do Centro de Tradições Gaúchas Minuano, de Iraí. Em 1985 saiu a segunda edição, graças aos esforços dos tradicionalistas Juarês Luís Gaspari e Alcides André Moraes, com um prefácio crítico-biográfico de José Alberto Barbosa e três novos poemas: “As Últimas Vontades” (1966); “Últimos Poemas” (1969) e “Tavico” (1972). Em 2002, José Isaac Pilatti e José Alberto Barbosa, que revisou e organizou a biografia e a bibliografia, lançaram, em Santa Catarina, a terceira edição do livro. A quarta edição, organizada por José Isaac Pilati, com a colaboração de José Alberto Barbosa e João Batista Marçal, saiu em 2004, sob o selo da Fundação José Arthur Boiteaux, de Florianópolis, Estado de Santa Catarina.
Lendo e relendo a quarta edição do único livro de Juca Ruivo, encontrei a resposta para o laconismo de Vasco Mello Leiria, conhecido oficial da Brigada Militar: a participação do poeta quaraiense, sob o comando do general libertador Honório Lemes, na Revolução de 23; seu envolvimento em tentativas revolucionárias posteriores e, mais tarde, conforme testemunho de Hugo Ramírez, idealizador da Estância da Poesia Crioula, sua militância ou simpatia com o Partido Comunista Brasileiro – PCB.

1. A Infância

Juca Ruivo nasceu José da Silva Leal Filho, em Garupá, de onde se avista o famoso Morro do Jarau, em Quaraí, no dia 22 de fevereiro de 1902. Seu pai, José da Silva Leal, são-gabrielense, era escrivão em Quaraí, depois gerente de banco no Alegrete e proprietário rural no Caverá. Sua mãe, Adolphina Schmiht Leal, era alegretense. Diz-se que Juca Ruivo foi registrado no Alegrete. O poeta contava que nasceu em 29 de fevereiro de 2004 e que o avô paterno, supersticioso, fez alterar a data de nascimento para coincidir com o aniversário de George Washington e evitar a coincidência do ano bissexto. Entretanto, segundo certidão de batismo obtida pelo biógrafo José Alberto Barbosa, o poeta nasceu, de fato, em 1902. Desde pequeno recebeu o apelido de Juca Ruivo porque tinha cabelos castanhos-claros.
Seus pais eram maragatos, adeptos do Partido Federalista, que liderou a Revolução de 93. Seguramente, cresceu ouvindo a famosa máxima de Gaspar da Silveira Martins: “Idéias não são metais que se fundem”. Daí que, aos 21 anos, tudo abandona para inscrever-se nas tropas de Honório Lemes, cognominado “Leão do Caverá”, sob cujas ordens serviu no posto de tenente. As idéias radicais sob as quais o poeta se formou, são lembradas no poema intitulado “A Esperança”:

Quando chegar esse tempo,
pelos galpões das estâncias,
se ouvirão as ressonâncias
das cordeonas melodiosas.
Nas ramadas silenciosas,
reviverão as porfias.
No balcão das pulperias,
haverá canha bem pura
pra afogar as amarguras
e saudar as alegrias!

O guasca terá de novo
seus redomões e tropilhas.
Pelo topo das coxilhas
o gado pastará em pontas.
Ninguém mais andará às tontas
fugindo da autoridade.
E em vez da calamidade
desta vida de carancho,
cada um terá seu rancho
e plata e carne à vontade!

E quando o poncho dos pobres
luzir pelo céu bendito,
por todo o pampa infinito
haverá frescas ramadas,
pra se dormir as sesteadas
nos mormaços de verão.
Haverá em cada galpão,
um fogo reconfortante,
pra aquentar o pobre andante
tocada pelo Minuano.
Enfim, o livre paisano,
será rei do seu rincão!

E correrão nos domingos,
as califórnias antigas.
As chinas que nem formigas,
arrodearão as carpetas.
Os milicianos paletas,
não bulirão com ninguém;
o guasca terá também
seu direito respeitado
que a Lei cortará num lado
e não bombeará em quem!

E do trabalho nas fainas,
o crioulo todo entregue,
viverá contente, alegre,
entre morenas quartudas.
Haverá tropas morrudas,
em que ganhe o suficiente
pra se vestir como gente
e dar regalos à china,
e nalguma sina-sina,
dar a casca, finalmente.

Contudo, embora nos reste,
baixo a cinza, indiferente,
alguma brasa inda quente
do entusiasmo passado,
o progresso respeitado,
não matará essa ilusão...
E ao toque de oração,
se ouvirão vozes no campo,
brilharão luzes no escampo
e viverá a TRADIÇÃO!


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Colaboração: Hilton Araldi.

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