Em artigo publicado no Jornal Província, de Tenente Portela, norte do Rio Grande do Sul, o promotor de justiça Nilton Kasctin dos Santos ...
Em
artigo publicado no Jornal Província, de Tenente Portela, norte do Rio
Grande do Sul, o promotor de justiça Nilton Kasctin dos Santos criticou
algumas músicas sobre cavalos que, no seu entender, passam às crianças
a cultura da "valentia" do gaúcho "na forma de violência contra
animais", o que considera uma "covardia". Entre as canções que fariam
apologia aos maus tratos está "Criado em Galpão" e o "O Sul é Meu
País", gravadas pelos Monarcas e Serranos. Os artistas reagiram. "Por
vezes, nosso Estado revela alguns arautos que querem holofotes e, para
isso, buscam as mais variadas formas de polemizar e contestar, o
incontestável', reagiu Edson Dutra, diretor dos Serranos. Já Gildinho,
dos Monarcas, afirma ser uma verdade inquestionável que não se pode
abusar dos animais e assegura que a música gaúcha não defende os maus
tratos. "Tanto é que aqueles que mais amam, cuidam e defendem os
cavalos, em nosso Estado, são os consumidores por excelência da cultura
regional", diz o diretor do grupo. Já Elton Saldanha (foto), também
citado no texto, declarou que é possível discutir esse tema. "As
pessoas que acham que nós pregamos maus tratos a animais por conta de
uma "licença poética", não conhecem nossa cultura, nem nossos cavalos.
É o mesmo que dizer que as pessoas que andam de faca estão portando
armas e dispostas a brigas", defende Saldanha, autor de "O Sul é Meu
País".
Leia o artigo do promotor e confira, a seguir, o que dizem os artistas e compositores citados:
Valentia de gaúcho
O rádio divulga insistente: “Para fechar com chave de ouro a Semana Farroupilha, o show mais esperado do ano, com o maior conjunto tradicionalista do Rio Grande, o mais ouvido em todo o Brasil. Patrocínio do Município. Não perca esse grande espetáculo”. E segue trecho de uma música cantada pelo afamado grupo musical Os Serranos:
Gosto de fazer um potro se cortar na minha chilena.
Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena.
Crinudo que sacode arreio engancho só na paleta.
Pois as esporas que eu uso têm veneno na roseta.
Tenho um preparo de doma trançado com perfeição.
Pra fazer qualquer ventena saber quem é este peão.
“Criado em galpão” é o nome da música, cuja composição é de Walther Moraes, J. Sampaio e Q. Grande. É uma das músicas preferidas do gaúcho. Refiro-me ao gaúcho macho. Valente. Que gosta de músicas com letras que exaltam espancamentos de cavalos. Uma valentia e tanto!
Um amigo advogado me diz que isso é apenas poesia. E na cabeça de milhares de gaúchos é isso mesmo. Relatos reais de crueldade contra animais indefesos virou poesia. Tradição. Cultura. Por isso que até o dinheiro dos nossos impostos é usado para pagar shows milionários de artistas que cantam uma barbaridade dessas.
Vejam esta outra, cantada pelo grupo musical Os Monarcas, e até pelo grande Elton Saldanha:
Já montei em potro xucro num pelado de rodeio.
De quebrar duas esporas e atorar as pernas do freio.
É coisa que eu acho lindo um crinudo vindo aos berros.
Se batendo no meu mango e se cortando nos meus ferros.
Não escolho pelo ou marca nem o lado de montar.
Ventana que corcoveia aprende a me carregar.
Crinudo que se rebolca eu faço ajoelhar na grama.
Um potrinho que ainda não teve contato físico com humanos é abruptamente separado de sua mãe. Enquanto corre desatinado no campo para escapar do laçador, é brutalmente derrubado com um “pealo”. Depois de amarrado, tem um ferro enfiado na boca, cordas de couro duro passadas por debaixo do rabo, das virilhas e da barriga, bem apertadas. E “aperos” presos ao lombo. Então o valentão monta e começa a bater no animal com um relho grosso de couro seco trançado, duro como ferro – o mango. Bate sem piedade, com toda a força de um homem forte e experimentado na lida braçal. Às vezes por horas a fio. E ainda cortando fundo o couro do animalzinho, dos dois lados, com as tais “chilenas”, as esporas (rosetas de ferro ou aço com pontas afiadas presas às botas do domador). Bem como dizem essas músicas.
É claro que o bichinho salta. E “berra”. E sangra muito pela boca, por causa do ferro e de uma corda rústica amarrada por baixo da língua só no maxilar, soqueada com força e sem parar pelo valente domador. Isso causa lacerações e cortes profundos na gengiva, nos lábios, na língua, no céu da boca e nos dentes do pobre animal. Sangra nas virilhas, pois quanto mais pula mais as cordas cheias de quinas duras apertam. E sangra muito pelos cortes dos ferros das esporas. Dos dois lados do corpo.
Isso é a “coisa que eu acho lindo” dos ditos artistas que cantam e compõem isso. O nome dessa música é “O Sul é meu país”. Sim, esses artistas “exaltam” e representam o Rio Grande com esse tipo de “poesia”. E passam às nossas crianças a cultura da valentia do gaúcho. Só que em forma de violência contra os animais. Uma valentia que é uma covardia.
O que diz Edson Dutra, dos Serranos:
Li, com os companheiros o conteúdo da crítica do aludido promotor de justiça, sobre as letras de um de nossos sucessos.
Por vezes, nosso Estado revela alguns arautos que querem holofotes e, para isso, buscam as mais variadas formas de polemizar e contestar, o incontestável. As verdades do nosso gauchismo, da lida campeira sempre foram assim e sempre serão. Não serei eu e nem algum dos meus colegas que irão dar vaza e atenção a essa oportunista manifestação.
Lembremo-nos dos críticos do Joca Martins, com a música ‘EU SOU BAGUAL’...aqueles, conseguiram aparecer, esse promotor, pelos SERRANOS, não aparecerá!
Diante disso, deixemos o doutor promotor refém de seu escrito e vamos em frente, tocando, cantando e fazendo sucesso com o nosso ‘CRIADO EM GALPÃO’. Afinal, pra domar um beiçudo e sujeita-lo à lida campeira, conforme quer e precisa o campeiro, faz-se mister sujeita-lo. E, sujeitar um cavalo xucro, só um campeiro sabe como se faz; o promotor não deve saber....
O que diz Gildinho, do grupo Os Monarcas
Trabalho há quase 50 anos no cenário musical gaúcho, sou fundador do grupo OS MONARCAS, experiência que me credencia a reputar ofensivo o conteúdo do artigo Valentia de gaúcho, por utilizar a expressão “ditos artistas” para se referir, de modo pejorativo, àqueles que compõem e cantam a música regional, principalmente porque a afirmação é feita a partir de uma generalização preconceituosa, associando, injustamente, a cultura tradicionalista à violência contra os animais.
Com a devida vênia, o ilustre Promotor de Justiça discorre sobre um tema que não conhece com profundidade, pinçando das vastas obras dos artistas mencionados trechos das letras de duas únicas músicas - Criado em galpão e O sul é o meu país – para, a partir destes recortes, realizar, sem direito ao contraditório, o julgamento do politicamente correto.
É preciso compreender que em tais composições transparece, efetivamente, a identidade de um sujeito do mundo rural, cenário em que se ergueu o mito do gaúcho valente e que tem na doma um símbolo da destreza, em razão da força quase invencível do cavalo. Como qualquer poesia, tais obras precisam ser contextualizadas, entendidas em seu sentido metafórico, merecendo uma interpretação menos preto no branco, como se espera de quem se propõe a falar sobre arte, de qualquer gênero.
É verdade inquestionável que não temos nenhum direito de usar e abusar dos animais. Mas também é verdade absoluta que não é isso o que a música gaúcha e o tradicionalismo defendem, tanto é que aqueles que mais amam, cuidam e defendem os cavalos, em nosso Estado, são os consumidores por excelência da cultura regional. Assim resta provado que nós, “ditos artistas”, diferentemente do afirmado, não temos passado às crianças gaúchas a cultura da valentia em forma de violência contra os animais.
Várias são as músicas do nosso cancioneiro que enaltecem o cavalo e a identificação do gaúcho com o animal, valendo referir, dentre inúmeras, a composição O GAÚCHO E O CAVALO, gravada pelos MONARCAS, em que cantamos: Nunca se monta num potro/Sem antes amanunciá-lo/Parceiro a gente conquista/Não prende a força de pealo/Tem que respeitar o amigo/Que nos serve de regalo.
Enfim, a música regionalista gaúcha, embora não compreendida por muitos, persiste forte com suas características. É música que veio do campo, legitimada como patrimônio cultural por grande parcela dos moradores da cidade que com ela se identificam, fato que por certo justifica o patrocínio, por diversas Prefeituras Municipais do Estado, durante a Semana Farroupilha, de shows de música tradicionalista, realizados por artistas que merecem respeito mesmo por parte daqueles que não apreciam o gênero musical.
Fonte: facebook e blog do Giovani Grizotti, junto ao portal G1
Leia o artigo do promotor e confira, a seguir, o que dizem os artistas e compositores citados:
Valentia de gaúcho
O rádio divulga insistente: “Para fechar com chave de ouro a Semana Farroupilha, o show mais esperado do ano, com o maior conjunto tradicionalista do Rio Grande, o mais ouvido em todo o Brasil. Patrocínio do Município. Não perca esse grande espetáculo”. E segue trecho de uma música cantada pelo afamado grupo musical Os Serranos:
Gosto de fazer um potro se cortar na minha chilena.
Pra sentir o sopro do vento me esparramando a melena.
Crinudo que sacode arreio engancho só na paleta.
Pois as esporas que eu uso têm veneno na roseta.
Tenho um preparo de doma trançado com perfeição.
Pra fazer qualquer ventena saber quem é este peão.
“Criado em galpão” é o nome da música, cuja composição é de Walther Moraes, J. Sampaio e Q. Grande. É uma das músicas preferidas do gaúcho. Refiro-me ao gaúcho macho. Valente. Que gosta de músicas com letras que exaltam espancamentos de cavalos. Uma valentia e tanto!
Um amigo advogado me diz que isso é apenas poesia. E na cabeça de milhares de gaúchos é isso mesmo. Relatos reais de crueldade contra animais indefesos virou poesia. Tradição. Cultura. Por isso que até o dinheiro dos nossos impostos é usado para pagar shows milionários de artistas que cantam uma barbaridade dessas.
Vejam esta outra, cantada pelo grupo musical Os Monarcas, e até pelo grande Elton Saldanha:
Já montei em potro xucro num pelado de rodeio.
De quebrar duas esporas e atorar as pernas do freio.
É coisa que eu acho lindo um crinudo vindo aos berros.
Se batendo no meu mango e se cortando nos meus ferros.
Não escolho pelo ou marca nem o lado de montar.
Ventana que corcoveia aprende a me carregar.
Crinudo que se rebolca eu faço ajoelhar na grama.
Um potrinho que ainda não teve contato físico com humanos é abruptamente separado de sua mãe. Enquanto corre desatinado no campo para escapar do laçador, é brutalmente derrubado com um “pealo”. Depois de amarrado, tem um ferro enfiado na boca, cordas de couro duro passadas por debaixo do rabo, das virilhas e da barriga, bem apertadas. E “aperos” presos ao lombo. Então o valentão monta e começa a bater no animal com um relho grosso de couro seco trançado, duro como ferro – o mango. Bate sem piedade, com toda a força de um homem forte e experimentado na lida braçal. Às vezes por horas a fio. E ainda cortando fundo o couro do animalzinho, dos dois lados, com as tais “chilenas”, as esporas (rosetas de ferro ou aço com pontas afiadas presas às botas do domador). Bem como dizem essas músicas.
É claro que o bichinho salta. E “berra”. E sangra muito pela boca, por causa do ferro e de uma corda rústica amarrada por baixo da língua só no maxilar, soqueada com força e sem parar pelo valente domador. Isso causa lacerações e cortes profundos na gengiva, nos lábios, na língua, no céu da boca e nos dentes do pobre animal. Sangra nas virilhas, pois quanto mais pula mais as cordas cheias de quinas duras apertam. E sangra muito pelos cortes dos ferros das esporas. Dos dois lados do corpo.
Isso é a “coisa que eu acho lindo” dos ditos artistas que cantam e compõem isso. O nome dessa música é “O Sul é meu país”. Sim, esses artistas “exaltam” e representam o Rio Grande com esse tipo de “poesia”. E passam às nossas crianças a cultura da valentia do gaúcho. Só que em forma de violência contra os animais. Uma valentia que é uma covardia.
O que diz Edson Dutra, dos Serranos:
Li, com os companheiros o conteúdo da crítica do aludido promotor de justiça, sobre as letras de um de nossos sucessos.
Por vezes, nosso Estado revela alguns arautos que querem holofotes e, para isso, buscam as mais variadas formas de polemizar e contestar, o incontestável. As verdades do nosso gauchismo, da lida campeira sempre foram assim e sempre serão. Não serei eu e nem algum dos meus colegas que irão dar vaza e atenção a essa oportunista manifestação.
Lembremo-nos dos críticos do Joca Martins, com a música ‘EU SOU BAGUAL’...aqueles, conseguiram aparecer, esse promotor, pelos SERRANOS, não aparecerá!
Diante disso, deixemos o doutor promotor refém de seu escrito e vamos em frente, tocando, cantando e fazendo sucesso com o nosso ‘CRIADO EM GALPÃO’. Afinal, pra domar um beiçudo e sujeita-lo à lida campeira, conforme quer e precisa o campeiro, faz-se mister sujeita-lo. E, sujeitar um cavalo xucro, só um campeiro sabe como se faz; o promotor não deve saber....
O que diz Gildinho, do grupo Os Monarcas
Trabalho há quase 50 anos no cenário musical gaúcho, sou fundador do grupo OS MONARCAS, experiência que me credencia a reputar ofensivo o conteúdo do artigo Valentia de gaúcho, por utilizar a expressão “ditos artistas” para se referir, de modo pejorativo, àqueles que compõem e cantam a música regional, principalmente porque a afirmação é feita a partir de uma generalização preconceituosa, associando, injustamente, a cultura tradicionalista à violência contra os animais.
Com a devida vênia, o ilustre Promotor de Justiça discorre sobre um tema que não conhece com profundidade, pinçando das vastas obras dos artistas mencionados trechos das letras de duas únicas músicas - Criado em galpão e O sul é o meu país – para, a partir destes recortes, realizar, sem direito ao contraditório, o julgamento do politicamente correto.
É preciso compreender que em tais composições transparece, efetivamente, a identidade de um sujeito do mundo rural, cenário em que se ergueu o mito do gaúcho valente e que tem na doma um símbolo da destreza, em razão da força quase invencível do cavalo. Como qualquer poesia, tais obras precisam ser contextualizadas, entendidas em seu sentido metafórico, merecendo uma interpretação menos preto no branco, como se espera de quem se propõe a falar sobre arte, de qualquer gênero.
É verdade inquestionável que não temos nenhum direito de usar e abusar dos animais. Mas também é verdade absoluta que não é isso o que a música gaúcha e o tradicionalismo defendem, tanto é que aqueles que mais amam, cuidam e defendem os cavalos, em nosso Estado, são os consumidores por excelência da cultura regional. Assim resta provado que nós, “ditos artistas”, diferentemente do afirmado, não temos passado às crianças gaúchas a cultura da valentia em forma de violência contra os animais.
Várias são as músicas do nosso cancioneiro que enaltecem o cavalo e a identificação do gaúcho com o animal, valendo referir, dentre inúmeras, a composição O GAÚCHO E O CAVALO, gravada pelos MONARCAS, em que cantamos: Nunca se monta num potro/Sem antes amanunciá-lo/Parceiro a gente conquista/Não prende a força de pealo/Tem que respeitar o amigo/Que nos serve de regalo.
Enfim, a música regionalista gaúcha, embora não compreendida por muitos, persiste forte com suas características. É música que veio do campo, legitimada como patrimônio cultural por grande parcela dos moradores da cidade que com ela se identificam, fato que por certo justifica o patrocínio, por diversas Prefeituras Municipais do Estado, durante a Semana Farroupilha, de shows de música tradicionalista, realizados por artistas que merecem respeito mesmo por parte daqueles que não apreciam o gênero musical.
Fonte: facebook e blog do Giovani Grizotti, junto ao portal G1
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