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Onde foi parar o gaúcho forte, aguerrido e bravo?

Por Sergio Araujo** A população gaúcha, contrariando a tradição de ser um povo determinado e impetuoso, parece estar sofrendo de um imo...


Por Sergio Araujo**

A população gaúcha, contrariando a tradição de ser um povo determinado e impetuoso, parece estar sofrendo de um imobilismo comportamental que destoa completamente das suas características históricas. No que tange a segurança pública, por exemplo, como explicar a passividade da sociedade que, aterrorizada, assiste atrás das grades e das cercas elétricas de suas residências o crescimento vertiginoso da violência urbana? Da mesma forma, como justificar a tolerância excessiva das entidades representativas dos servidores públicos estaduais para com o desmonte do serviço público e da perda das conquistas duramente conseguidas, realizadas impiedosamente pelo Executivo estadual? E estes são apenas dois dos muitos setores que não estão recebendo a devida atenção do Estado.

Vejamos um exemplo prático. Quantos quilômetros de praia tem o litoral gaúcho? Seiscentos e vinte quilômetros. Por que então os milhares de veranistas se aglomeram em poucos pontos dessa extensão para banharem-se? Por que é lá que estão situadas as guaritas de salva-vidas. Com os respectivos profissionais dentro, óbvio. E é isso que chamamos de sensação de segurança. A mesma sensação às avessas que estamos sentindo nas quase quinhentas cidades gaúchas. Atualmente nenhum município está livre da bandidagem. Que o diga as pequenas localidades que semana após semana vem sendo assombradas com o ataque de quadrilhas de assaltantes de bancos. E tudo isso deve-se, fundamentalmente, a falta de policiamento ostensivo, fruto de uma crescente defasagem de efetivo.

E o que faz o Executivo? Justifica tudo por conta da escassez de recursos. Ora, governar com dinheiro em caixa é fácil. Difícil é administrar com carência orçamentária. E isso o governador Sartori sabia antecipadamente que aconteceria. Portanto, usar a falta de recursos como motivo para as mazelas de áreas imprescindíveis como a educação, a saúde e a segurança, pode até explicar, mas não justifica. Em meio ao congelamento de salários, aumento de impostos, atraso no pagamento de prestadores de serviços e diversas outras medidas recessivas, é inadmissível que não tenha sobrado recursos para, por exemplo, nomear servidores concursados para a área da segurança pública.

Mas o pior mesmo é ouvir do governador a mesma cantilena de sempre, repetida mais uma vez em entrevistas dadas nesta semana. Nelas, Sartori volta a pedir paciência e tranquilidade à população. Mais do que a sociedade já está tendo? Pois eu penso que a solução está justamente no oposto. Que já que a sociedade não está sendo chamada ao diálogo, para se fazer ouvir na busca de soluções para a crise financeira do Rio Grande, que os gaúchos se mobilizem e partam para a ação. Não pela violência, pela intransigência ou pelo radicalismo. Mas pela inconformidade propositiva. Organizando-se em suas respectivas áreas de atuação e cobrando ativamente mais atitude de nossos governantes. Sejam eles de que esfera for. E, sempre que possível, oferecer sugestões viáveis para nossos problemas do cotidiano.

Mas nada disso adiantará se a inconformidade generalizada se restringir à crítica virtual, restrita às redes sociais, que até pode ser útil como atitude complementar, mas que do ponto de vista da praticidade e objetividade pouco contribuem para as mudanças necessárias. Pode-se começar, por exemplo, mostrando claramente ao governo quais são as reais prioridades da população. Se não existe dinheiro para tudo, que se use o disponível para atender o essencial. Colocar polícia na rua e bandido no presídio é uma delas. E aí, por exemplo, dar um basta na demora para que o presídio de Canoas entre em operação.

Outra prioridade indispensável é a realização de uma grande operação tapa-buracos nas rodovias estaduais. Não apenas para dar segurança aos usuários, mas para garantir o escoamento da safra que se avizinha. E, nesse aspecto, é preciso dar celeridade a execução do programa de concessão de rodovias estaduais. Num estado cuja economia está baseada no agronegócio, boas rodovias são vitais para o seu crescimento.

O mesmo pode ser dito do governo federal, que precisa recuperar a sua malha pavimentada e dar um jeito de continuar investindo em obras de duplicação e construção de obras de artes. Mas, no caso da União, a responsabilidade é ainda maior, pois com o descontrole inflacionário e o consequente aumento dos preços, e a perda de prestígio internacional e da confiabilidade dos organismos econômicos em função da crise política, com repercussão na retração dos empreendedores, a piora do cenário nacional tem reflexo direto na qualidade de vida da população e no enfraquecimento das instituições nacionais. Uma grande contribuição da sociedade poderá ser a intolerância com a corrupção (em todos os níveis, inclusive pessoal) e um cuidado redobrado na escolha dos seus representantes no Congresso Nacional.

No caso específico do Rio Grande do Sul, não é possível e nem tolerável que um governo que age com tanta presteza e eficácia na aprovação de medidas de seu próprio interesse demore tanto para colocar em prática ações de interesse da sociedade. É preciso fazê-lo ver e sentir que paciência tem limite e que um ano de bonificação foi o suficiente. Ninguém em sua sã consciência espera que um governo, em quatro anos, resolva todos os problemas gerados em quatro décadas. Mas todos, sem exceção, sabem que o que está sendo feito é muito pouco. Por isso, é chegada a hora dos gaúchos mostrarem que não esqueceram o que significa ser forte, aguerrido e bravo. Mas, para isto, é preciso acreditar que a maior virtude de nosso povo está em não aceitar mais ser escravo das dificuldades. Hora de sair da poltrona e pôr mãos à obra. E, a partir de outubro, por um dedo na consciência e outro na urna.


**Sergio Araujo é jornalista e publicitário


Fonte: portal Sul21

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