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06 de outubro - 15 anos da morte de Noel Guarany

Noel Guarany era descendente de italianos e índios guaranis, e nasceu em 26 de dezembro de 1941, na Bossoroca, então um distrito de São...


Noel Guarany era descendente de italianos e índios guaranis, e nasceu em 26 de dezembro de 1941, na Bossoroca, então um distrito de São Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul.

Na adolescência, aprendeu, de maneira autodidata, o idioma guarani, bem como a compor, tocar e cantar.

Na década de 1960 percorreu diversos países latino-americanos, onde colheu diversos ensinamentos que utilizou como subsídio para criação de suas músicas durante toda a sua futura carreira.

No final da década, apresentou alguns programas radiofônicos nas rádios de Cerro Largo e São Luiz Gonzaga, bem como nas rádios Gaúcha e Guaíba de Porto Alegre, RS.
Em 1970, lançou, em conjunto com Cenair Maicá, com o qual vinha se apresentando pelo Rio Grande do Sul e em festivais na Argentina, um compacto simples, com as músicas Filosofia de Gaudério e Romance do Pala Velho.

No ano seguinte, grava o seu primeiro LP, Legendas Missioneiras, pela gravadora RGE, que traz, entre outras, parcerias com Jayme Caetano Braun, Glênio Fagundes e Aureliano de Figueiredo Pinto. Neste disco, além das músicas constantes do compacto anterior, estão presentes outras pérolas de seu repertório, como Fandango na Fronteira, Gaudério e Eu e o Rio.

Em 1973 sai Destino Missioneiro, pela gravadora Phonogram/Sinter, no qual repete algumas das parcerias do disco anterior, bem como traz composições próprias e de Barbosa Lessa e uma parceria com Aparício Silva Rillo. Neste disco, estão presentes grandes músicas como Destino Missioneiro e Destino de Peão. Nesta época, ainda em tempos da ditadura militar, passa a ser perseguido em alguns shows devido a suas convicções democráticas e libertárias, conforme registra ao vivo nesse álbum.

Seu terceiro LP é Sem Fronteiras, lançado em 1975 pela EMI/Odeon, que está repleto de músicas que acabaram se tornando clássicos do cancioneiro gaúcho, como Romance do Pala Velho, Potro Sem Dono (de Paulo Portela Fagundes), Filosofia de Gaudério, Balseiros do Rio Uruguai (de Barbosa Lessa), Décima do Potro Baio e Chamarrita sem Fronteira (as duas últimas, temas missioneiros recolhidos e adaptados por Noel Guarany), entre outras.

No ano de 1976, Noel Guarany grava em parceria com Jayme Caetano Braun, de maneira independente, o LP Payador, Pampa, Guitarra. Gravado parte na Argentina e parte em São Paulo, o disco conta com a participação de grandes músicos argentinos.
Em 1977 a RGE relança o disco Legendas Missioneiras, de 1971, com o título de Canto da Fronteira.

Em 1978 sai o LP Noel Guarany Canta Aureliano de Figueiredo Pinto, pela RGE, que resgata a obra e a memória de um dos grandes poetas do regionalismo gaúcho.

No ano seguinte, sai o disco De Pulperias, ainda pela gravadora RGE. Constam deste disco as músicas En el rancho y la cambicha, Rio de Los Pajaros e Milonga del peón de campo, de Mario Millan Medina, Anibal Sampayo e Atahualpa Yupanqui, respectivamente.

Em 1980 sai Alma, Garra e Melodia, em que se destacam as músicas Maneco Queixo de Ferro e Índia cruda. Neste mesmo ano ocorre o show no Cinema Glória, na cidade de Santa Maria, que mais tarde, em 2003, viria a se tornar o disco Destino Missioneiro - Show Inédito.

No ano de 1982, é lançado o LP Para o Que Olha Sem Ver, pela RGE, título que remete à música Para el que mira sin ver de autoria do cantor e poeta argentino Atahualpa Yupanqui (presente também na composição Los ejes de mi carreta). Além das citadas, estão presentes as músicas Boi Preto, Na Baixada do Manduca e Adeus Morena, músicas de inspiração folclórica. De se destacar, também, quatro composições de João Sampaio.

Neste ponto, Noel Guarany, já com os primeiros sintomas da doença, começou a afastar-se dos palcos, e acabou redigindo uma carta aberta à imprensa, na qual reclama do tratamento recebido pela gravadora.

Em 1985 retira-se definitivamente dos palcos, em cumprimento ao prometido na carta de 1983.
No ano de 1988, em conjunto com Jorge Guedes e João Máximo, lança o disco A Volta do Missioneiro.

Nos próximos 10 anos, o grande gaúcho, cada vez mais debilitado por uma doença degenerativa no cérebro, permaneceu recolhido em seu sítio na localidade de Vila Santos, no município de Santa Maria.

Morreu no dia 6 de outubro de 1998, na Casa de Saúde de Santa Maria, tendo sido enterrado em Bossoroca, sua terra natal.


NOEL GUARANY: O MAGO QUE (RE)CRIOU A MÚSICA MISSIONEIRA
Por JOÃO SAMPAIO




Nas Missões a música sempre foi muito importante.
Desde a época esplendorosa dos jesuítas que nós,os missioneiros,cantamos para tudo:para trabalhar,para festejar,para louvar o nosso Tupã guarani,para guerrear e também para enterrar os nossos mortos.
O lendário padre Antonio Sepp,formou milhares de músicos,virtuoses que tocavam com a notação musical mais avançada do seu tempo.

Após a expulsão dos jesuítas,do genocídio covarde da Guerra Guaranítica e do traslado dos índios para o outro lado do rio,aconteceu(com a chegada dos imigrantes gringos e outros fatores socioeconômicos) uma certa "desaceleração" nessa musicalidade.

Mais contemporaneamente,sobraram músicos espontâneos como o Cabo Laranjeira(que acompanhou a saga da Coluna Prestes!),o Reduzino Malaquias,o Chico Guedes e muitos outros criollos,que,a duras penas,mantiveram ,galhardamente intocado esse tesouro musical,lutando para não se contaminarem e nem se poluírem com o canto de outras querências.

Nesse tempo abundavam nas Missões,imitadores caricaturais dos Bertussi(que,com todo o respeito que merecem,nada tinham e nada têm a ver conosco!),bem como duplas sertanejas com temáticas postiças e artificiais,de péssimo gosto e que também não contextualizavam o canto da nossa terra e da nossa gente.

E foi aí que surgiu a genialidade pioneira,única e iluminada de Noel Guarany.
Depois de percorrer,com sua guitarra crioula,vários paises da América mestiça e índia(la nuestra América!),Noel Guarany miscigenou antigas sonoridades e timbres do cancioneiro guaranítico missioneiro com a aculturação de rítmos platinos(sobretudo argentinos,uruguayos e paraguayos!) e fermentou esse bolo musical que hoje é conhecido como MÚSICA MISSIONEIRA.

Já foi dito que Noel Guarany forjou uma maneira missioneira de cantar o gauchismo.
Eu vou muito mais além, e como diria Brecht,acho que Noel Guarany foi um homem imprescindível para o tempo que lhe tocou viver.

Foi,reitero,um pioneiro e um precursor único,queiram ou não queiram os pregoeiros mal informados que propagam o contrário.

Foi o primeiro,entre nós,a gravar uma chamarrita(que aqui era mais dança coreográfica!),foi o primeiro a gravar uma cifra(rítmo parente da milonga,muito utilizado pelos payadores!),foi igualmente o primeiro a falar em pulperia,em bailanta,e também o primeiro a gravar um rasguido doble que ele chamava de passo dobrado. Também foi dos primeiros a gravar ,propagar e ajudar na aclimatação e folclorização do chamamé.
E,além de tudo isso,fez escola.

Atrás do rastro encantado deixado por ele vieram Cenair Maicá e Pedro Ortaça,que cantavam outro tipo de música. O primeiro algo parecido com o José Mendes(que inclusive gravou uma obra sua!) e o Pedro Ortaça que cantava música sertaneja,juntamente com o gaiteiro João Máximo,com quem formou a dupla CANÁRIO & CANARINHO.
E foi assim,que depois de transitarem por vários gêneros e estilos musicais,que Cenair Maicá e Pedro Ortaça se encontraram na picada aberta pelo Noel Guarany.

Noel Guarany foi e é tão importante,que além de dotar a música gaúcha de uma face índia que ela não tinha,abriu ainda para o grande Jayme Caetano Braun uma janela de latino-americanidade,livrando-o com isso,daquela ortodoxia cetegeana,ortodoxa ,anacrônica e conservadora que ele tinha no começo.
Por todas essas razões acima respeitosamente elencadas,é que eu acho(opinião pessoal minha!) um pouco exagerada e pomposa a denominação de TRONCOS MISSIONEIROS,rótulo meramente comercial e mercadológico,criado pelo gênio marqueteiro do guru Allex Hohenbergger,como um certeiro apelo propagandístico para alavancar as vendas de um LP(no tempo do saudoso vinil!) com essa titulação,produto lançado pela USA/DISCOS na época ainda DISCOTECA.

Noel Guarany surgiu com qualidade vocal,temática e melódica muito antes da Califórnia da Canção Nativa e congêneres.

Tinha estilo próprio e carisma(uma empatia hipnótica sobre o público,como bem disse o Tau Golin) e cantava com grande dignidade.

Além do herdeiro espiritual por ele escolhido,que é o Jorge Guedes,deixou inúmeros seguidores como Luiz Marenco e Xiruzinho,para só citar dois.

Noel Guarany sempre foi fiel e carregou consigo até o fim como um repto,a máxima martínfierresca de cantar opinando e é na minha opinião o marco divisório na música nativa e crioula do RS.

Assim sendo,abstraído esse viés promocional da denominação TRONCOS MISSIONEIROS,sem desrespeitar a memória dos demais nomeados e de quem leva ainda muito a sério o rótulo do marketing,todos surgidos muito depois de o Noel Guarany ter feito o primeiro registro fonográfico do que se convencionou consignar como MÚSICA MISSIONEIRA(com o timbre,o sotaque,a aura e as temáticas que ele consagrou e conserva até hoje!),podemos reiterar e reafirmar,respaldado em datação cronológica e temporalidade indesmentível ,que o pai dessa criança É ELE,dispensando qualquer investigação,pesquisa ou exibição de prova genética do DNA artístico e autoral dessa criatura maravilhosa,telúrica e única que ELE (RE)CRIOU e que ELE mesmo batizou e crismou como MÚSICA MISSIONEIRA GAÚCHA.

Sua música tem uma estranha e mágica fosforescência. É o pajé bugre da musicalidade missioneira. O Rio Grande do Sul e as Missões,têm uma dívida impagável para com NOEL GUARANY.


Fonte: Rádio Fronteira Gaúcha


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