Nativismo diz da 'revivescência, da propagação da cultura dos povos primitivos contra a aculturação' Vinicius Brum - segundocader...
Nativismo diz da 'revivescência, da propagação da cultura dos povos primitivos contra a aculturação'
Vinicius Brum - segundocaderno@zerohora.com.br
Em função de dois grandes eventos – Expointer e Acampamento Farroupilha –, esta época do ano proporciona uma exposição midiática de artistas cujos trabalhos estão vinculados ao universo rural rio-grandense. São cantores, músicos, poetas, repentistas que manifestam estreita ligação com a cultura oriunda do campo. Imediatamente se estabelece uma tendência de adjetivação desses artistas, situando-os dentro do espectro do tradicionalismo. Diante de tal evidência, gostaria de propor uma reflexão, ainda que rápida, sobre alguns termos que são empregados com frequência, quase sempre como se designassem a mesma coisa. Não raro se ouve a referência à música, aos cantores, à poesia tradicionalistas. Bem como tem se tornado usual conferir o mesmo peso semântico a vocábulos como tradicionalismo, nativismo e regionalismo.
Sem maiores aprofundamentos, podemos entender que tradicionalismo refere-se à característica associativa que organiza os centros de tradição (CTG’s) que se filiam ao Movimento Tradicionalista Gaúcho; nativismo diz da “revivescência, da propagação da cultura dos povos primitivos contra a aculturação”, portanto estabelecendo um sentido de pertencimento a uma comunidade identificada; e regionalismo trata da “expressão artística (música, literatura, teatro etc.) que se baseia ou reflete ou expressa costumes ou tradições regionais”.
Barbosa Lessa, no livro Nativismo – Um Fenômeno Social Gaúcho, referindo-se ao início dos anos 1950 como decisivos para a propagação do movimento cultural alicerçado naquilo que ele identifica como tradição gaúcha, situa 1953 como o ano do despertar da música regional, que segundo sua visão se expressa em duas linhas: “a tradicionalista, com temas e harmonias mais trabalhadas [...] O gauchismo em traje de gala.” E “a regionalista, com temas e harmonias singelas, [...] O gauchismo de bombachas gastas e de pé no chão”.
Entendo que Lessa expõe seu desejo de como as coisas deveriam andar daquele momento em diante. Hoje parece haver, nos meios tradicionalistas, uma ascendência de aceitação das bombachas gastas e pés descalços em relação ao traje de gala. Aqui não vai nenhum juízo de valor entre as duas instâncias propostas por Lessa. Citando apenas dois representantes de cada lado, percebe-se que a balança se equilibra: Tio Bilia e Renato Borghetti. E se me for obrigatório adjetivá-los, não os diria tradicionalistas, e sim artistas regionais – expressões vigorosas da música produzida no Rio Grande do Sul.
Fonte: Zero Hora / Segundo Caderno
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