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Artigo Tau Golin: Talibanização Pilchada

TALIBANIZAÇÃO PILCHADA Tau Golin* Periodicamente, em setembro, a cidadania republicana é ameaçada por algumas cargas da arrogância metegi...

TALIBANIZAÇÃO PILCHADA

Tau Golin*

Periodicamente, em setembro, a cidadania republicana é ameaçada por algumas cargas da arrogância metegista. Ouvi que o prefeito de Passo Fundo anda quase aos frangalhos, com as roupas em tiras, pelas investidas da patrona da Região Tradicionalista. No passado, em uma sesteada da Câmara de Vereadores, sem que se fizesse a discussão sobre o capital simbólico do município com toda a representação cultural e intelectual, foi aprovada a lei municipal 2.830/1992. De inspiração nazi-fascista, simplesmente obriga a prática e a doutrinação tradicionalista na rede de ensino municipal. Se fosse o estudo do tradicionalismo não teria problema. Isto é feito na Universidade, por exemplo. Seria mais um objeto, o esforço educativo para compreender um fenômeno associativo-cultural.
Mas a lei e a patrona querem que os tradicionalistas ocupem as Escolas e transformem os alunos em gadinho alienado e ungidos pela aguilhada de sua alienação, fiquem pequenos talibazinhos pilchados pelos dogmas da visão particular sobre a história do MTG, sobre a sua prática de cultura e, pior, que se convertam em gurizada autômata da celebração do calendário cívico-pilchado que consagraram.
Nesta violação pedagógica, o MTG quer implantar a ferro “o Programa Permanente de Fomento a Tradição e Folclore junto à Secretaria Municipal de Educação”, através de um sistema de adestramento que tem “o objetivo de despertar nos alunos o gosto pelo folclore, conhecendo, valorizando e vivenciando o folclore rio-grandense, nas diversas manifestações.” Aqui, os termos “tradição” e “folclore” são táticas ilusionistas para a implantação da visão particularizada do tradicionalismo. Aparentemente é algo puro, bucólico, terrunho, já que pretende mesmo, conforme seu Art. 2º, é ocupar “todas as escolas municipais, através de atividades extracurriculares”, preenchendo o tempo dos alunos com “danças folclóricas”, desde que chanceladas pelo MTG, o “fandango gaúcho, interpretação de poesias e de declamações; iniciação ao movimento tradicionalista gaúcho (sic!) com embasamento literário; formação de invernadas artísticas e concursos anuais com premiação.” Tal pedagogia é claríssima. Doutrinar e, depois, premiar, a recompensa para quem seguir as regrinhas determinadas de fora, em que o aluno abdique de escolhas, pois (Art. 3º) “o programa será acompanhado sistematicamente visando avaliar o crescimento cultural do alunado.”
Escola é lugar para estudar e compreender. É o espaço público, laico e republicano. Celebração e culto dogmático e particularizante é em CTG e igreja. A escola é lugar de ilustração. À catequese, prevê o contrato constitucional, reserva-se os ambientes “particulares” de fé. Escola tem uma função educacional, não é a casa da mãe-joana para ser retalhada e invadida pelas “forças” sociais. A educação tem princípios emanados no esclarecimento.
Na última década, historiadores, jornalistas, educadores, tem procurado fortalecer os princípios republicanos, a laicidade brasileira. Identificado o ódio elevado como imanência dos credos, dos dogmatismos. Consubstanciam a intolerância que periga sobre a nação multicultural enraizada no Brasil.
São por fatos cotidianos como a investida da patrona nas instituições públicas, calcando a lança da ignorância no peito do prefeito, que o tradicionalismo é identificado como exemplo antirrepublicano, arrogante, uma instituição particular que tem a ambição de ser “modelo a toda terra”. Que não perde tempo e manipular as leis em seu proveito...
O Manifesto contra o tradicionalismo, expressão de centenas de pessoas indignadas contra as usurpações metegistas, disponível na internet, já esclareceu suficientemente que o MTG é uma entidade privada que pretende se consagrar como “cultura oficial”, invadiu instituições, domina espaços do Estado-governo e possui reservas vitalícias nos órgãos públicos. Além disso, arrecada considerável verba que pertence à poupança do povo, para os seus eventos. Invadiu a escola para converter os alunos ao seu culto, quando a educação republicanamente é o espaço do saber, do estudo.
Mais que justificadamente, os signatários do Manifesto postulam por uma CPI na Assembleia Legislativa. O MTG é uma espécie de TFP tolerada, camuflado na ilusão da identidade gauchesca. Urge que se realizem audiências públicas no Conselho de Educação, para discutir pedagogicamente a ameaça à escola pública provocada pelo cetegismo, que conta com a militância de diretoras-prendas nos planos de ensino e a patronagem sobre os professores, com o desejo de transformá-los em preposto de CTG. Também no Conselho de Cultura são aprovados inúmeros projetos de lazer e turismo tradicionalista para captação de verbas pela LIC. Além da usurpação direta, o MTG tem diversos subterfúgios para sua arreada das verbas e espaços públicos.
Em Passo Fundo também está na hora de auferir a usurpação do público pelo MTG.
Por essas questões, o Manifesto é, em seu conjunto, a defesa da cidadania, da democracia, das relações republicanas e da liberdade cultural. No extremo, representa um movimento da ilustração contra o fundamentalismo. Sua intenção é não deixar que um movimento de caráter privado usurpe as esferas públicas e atropele o civismo, ocupe o imaginário e substitua as identidades pelo “tipo gauchesco clubístico citadino” e o “legitime” como modelo regional hierarquicamente superior às contribuições das demais etnias. Principalmente em Passo Fundo, de gentílico caboclo, onde nunca existiu historicamente o grupo social gaúcho.
É neste contexto que o Manifesto, de certa forma, é sucedâneo a uma enorme literatura e posturas públicas já conhecidas, e que vem conseguindo fortalecer as particularidades culturais inter-regionais, demonstrando que o MTG é um movimento militante ideológico-cultural, cada vez mais fundamentalista e intolerante, que procura converter-se em um poder dentro do Estado, invariavelmente pressionando, quando não elegendo governantes sem universalidade.
Muitas pessoas já se deram conta isso. Quase todas têm uma experiência para relatar. O próprio gauchismo tem procurado formas alternativas de associação, sem a necessidade de reproduzir a estrutura da estância escravocrata. Reúnem-se em piquetes, em centros de cultura gaúcha, em ciclos, em grupos etc. Cada vez é mais forte a percepção que tradicionalista não significa necessariamente gaúcho; e, muito menos, rio-grandense. Particularmente, em Passo Fundo, é uma invenção imitativa, aparentemente bucólica, mas que se transformou neste perigo agauchador de indivíduos artificiais, clubísticos, que se reinventam pelas técnicas da pós-modernidade, onde o parecer-ser imagético sufoca a tradição, o folclore e a cultura popular.
Os CTGs transformaram-se nas piras imoladoras dos avós. Exterminadores de memórias, de práticas humanas e reais dos antepassados, inclusive dos tradicionalistas. Onde o caboclo? Onde o mestiço? Onde povoadores? Onde os bravos pioneiros? Onde os conflitos, os direitos e disputas, na formação social do Planalto Médio? Tudo sucumbe e se perde neste pucherão acéfalo do civismo metegista. Ninguém mais tem passado real. A identidade é uma escolha na cartilha do MTG. A vida é substituída pela forja do CTG.
Distantes do mundo real da campanha, nas regiões de hábitos autênticos do povo concreto, mestiço, caboclo, interétnico etc., onde se encontra o capital simbólico, há um sentimento (e muitos o verbalizam) de que o tradicionalista, ao menos estilisticamente, é a carnavalização do gauchismo. Tem forte componente da indústria cultural, não necessita da experiência da territorialidade. Ele é uma agremiação estilística que, no seu limite, chega ao fundamentalismo. Escreveu alguns manuais encíclicos e pretende convertê-los em práticas litúrgicas da sociedade. Em seu fanatismo, brande sua projeção ilusória sobre o mundo, peita prefeitos, condena a imolação secretários independentes e que não rezam pelas suas cartilhas.
Nessa imanência da arrogância, atropela a ordem republicana, e pretende cetegizar o ensino e a sociedade.
Abaixo a talibanização pilchada dos estudantes de Passo Fundo.


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*Luiz Carlos Tau Golin
É jornalista profissional pelo Ministério do Trabalho. Graduado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994), tem mestrado em História do Brasil, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1996) e Doutorado em História, pela PUCRS (2000); É mestre em Navegação pela Marinha do Brasil e professor de vela pela International Sailing Federation (Federação Internacional de Vela). Atualmente é professor Titular II da Universidade de Passo Fundo. Tem experiência em editoração e nas áreas de comunicação e de história, com ênfase em história do Brasil, ibero-americana, história regional comparada e história comparada da navegação, atuando em temas como tradicionalismo, gauchismo, Revolução Farroupilha, Guerra Guaranítica, regionalismo, fronteiras, geopolítica do Prata, mídia, cultura e história comparada da navegação.
 
 
Colaboração: Alan Otto Redü

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