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1º Concurso de Poesia Gauchesca "Jayme Caetano Braun"

Jaime Caetano Braun (Timbaúva, 30 de janeiro de 1924 — Porto Alegre, 8 de julho de 1999) foi um renomado payador e poeta do Rio Grande do...

Jaime Caetano Braun

(Timbaúva, 30 de janeiro de 1924 — Porto Alegre, 8 de julho de 1999) foi um renomado payador e poeta do Rio Grande do Sul, prestigiado também na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Era conhecido como El Payador e por vezes utilizou os pseudônimos de Piraju, Martín Fierro, Chimango e Andarengo.
Jayme formou-se em jornalismo em 1954 e, na década de 70, trabalhou como radialista na Rádio Guaíba, onde apresentava "Brasil Grande do Sul", programa especial que ia ao ar aos sábados pela manhã. Ele também foi funcionário público estadual. Trabalhou no Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado (Ipase) e dirigiu a Biblioteca Pública de 1959 a 1963. Aposentou-se em 1969.
Dotado de um talento extraordinário, escreveu livros como "Galpão de Estância" (1954), "De fogão em fogão" (1958), "Potreiro de Guaxos" (1965) e "Pendão Farrapo" (1978), alusivo à Revolução Farroupilha, além de outros e também gravou LP’S e CD’S. Foi parceiro de vários músicos regionalistas e padrinho de outros tantos que lançou na carreira artística.
Ele foi alambrador, tropeiro e curandeiro. Um artista missioneiro que fez da sua região o seu mundo e da sua aldeia uma Pátria.
 
Neste ano de 2012, o artista é homenageado pela Estância da Poesia Crioula com o "1º Concurso de Poesia Gauchesca Jayme Caetano Braun", que está com inscrições abertas até 15 de fevereiro. Em anexo segue o regulamento. Participe... A seguir, nacos de seu talento...
 
Hora da Sesta
Jayme Caetano Braun

O sol parece uma brasa
na cinza do firmamento.
Sobre o campo sonolento
ninguém está de vigília,
na lagoa - uma novilha,
bebe - de ventas franzidas
e duas graças perdidas
sentam na grama tordilha.

No galpão - tudo é silêncio,
e a cachorrada cochila
e a peonada se perfila,
estirada nos arreios,
só se escutam os floreios
da mamangava lubana
fazendo zoada, importuna,
nos buracos dos esteios.

Rompe o silêncio da seta
na guajuvira da frente
o tá-tá-tá impertinente
do bico dum pica-pau.
No galpão - um índio mau
quase enleia na açoiteira
a naniquinha poedeira
que vem botar no jirau.

Mas a soneira é mais forte
do que os gritos da galinha
e até as chinas da cozinha
cochicham meio em segredo,
Não há rumor no arvoredo,
nos bretes e nas mangueiras,
dormem as velhas figueiras
só quem não dorme é o piazedo.

É hora de caçar lagartos
e peleguear camoatim,
hora das artes sim fim
que o grande faz que ignora
e quanto guri de fora
criado no desamor,
numa infância de rigor
só foi guri nessa hora.

Hora de sesta - Saudades,
de juventude e de infância,
Hoje - ao te ver à distância,
quando a vida já raleia,
qual um sol bruxoleia
num canhadão se perdendo,
hoje - afinal - eu compreendo
por que guri não sesteia!

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Mas que importa a diferença
Entre uma cruz falquejada
E a tumba marmorizada
De quem viveu na opulência?
Que importa a cruz da indigência
A quem não vive mais,
Se todos somos iguais
Depois que finda a existência?

Que importa a coroa fina
E a vela de esparmacete?
Se entre os varais do teu brete
Nada mais tem importância?
Um patrão, um peão de estância
Um doutor, uma donzela?
Tudo, tudo se nivela
Pela insignificância.

(trecho do poema Cemitério de Campanha)
 
Fui sempre aquilo que sou,
sou sempre aquilo que fui,
Porque a vida não dilui
o que a mãe terra gerou...
Sou o brasedo que ficou
e aceso permaneceu,
Sou o gaúcho que cresceu
junto aos fortins de combate
E já estava tomando mate
quando a pátria amanheceu!!!

(trecho de Payada)
 
Há uma grande variedade
De poetas no meu país,
Do mais variado matiz
Cheios de brasilidade,
De um Carlos Drummond de Andrade
Ao mais culto e ao mais fino,
Mas eu prefiro o Balbino,
Juca Ruivo e Aureliano,
Trançando de mano a mano
Com lonca de boi brasino

João Vargas - e o Vargas Neto
E o Amaro Juvenal,
Cada qual um manancial
Que ilustram qualquer dialeto,
Manuseando o alfabeto
No seu feitio mais austero,
Os discípulos de Homero
De alma grande e verso leve,
Desde sempre usando um "breve"
De ferrão de quero-quero!
(trecho de Chimarrão e Poesia)
No galpão tudo é silêncio
A cachorrada cochila
E a peonada se perfila
Estirada nos arreios
Só se escutam os floreios
Da mamangava lubuna
Fazendo zoada, importuna,
Nos buracos dos esteios.

(trecho de Hora da Sesta)

Bendita china gaúcha
Que és a rainha do pampa
E tens na divina estampa
Um quê de nobre e altivo.
És perfume, és lenitivo
Que nos encanta e suaviza
E num minuto escraviza
O índio mais primitivo.

(trecho de China)

Trago na genealogia
índios, negros, lusitanos
mestiços e castelhanos
brotados da geografia
que a hora em que me paria,
livre de mal e quebranto,
parou pra ouvir meu canto
mesclado com ventania.
(trecho de Gaúchos)
                                                                                                                                       
Meu patrício, aí foi o mate
Vá chupando, despacito
Que é triste matear solito
Quando a velhice nos bate.
Por isso, neste arremate,
Que chegou num arrepio,
Meu velho peito vazio
Que já teve tanta dona
Ressonga que nem cordeona
Nos bailes do rancherio.

(trecho de Mateando)

Mãe do pobre peão de estância,
Miserável dos galpões
O pária das solidões
Maltrapilho, analfabeto
Mãe que sob humilde teto
Pressente o trote do pingo
Do filho que vem, domingo,
Trazer-lhe um pouco de afeto.

(trecho de Mãe Crioula)


Quando piá, foi o prazer
Que nunca troquei por outro
Saltar no lombo dum potro
Quando a manada saía
Artes que a gente fazia,
Se acaso estava solito
E depois pregava o grito
Quando o bagual se perdia!

(trecho de Gineteando)


Rincão da flor colorada
No topete das morenas
Do tilintar das chilenas
E do umbu, triste e sozinho
De onde o bem-te-vi, do ninho
Nas alvoradas serenas
Desfia um sem-fim de penas
Na evocação de um carinho.

(trecho de Querência)

 A terra continentina
Precisa nova confiança
Contra o conchavo que avança
Em nossa pátria divina
E o payador se ilumina
No poder do pensamento
Imaginando um invento
Que alcance logo sucesso
E se consiga um congresso
Que respeite o orçamento.

(trecho de Payada do Safenado)
 
Vieja milonga pampeana
hija de llanos y vientos,
chiruza de cuatro alientos
de la tierra americana;
Vieja milonga paisana
de los montes y praderas,
tus mensajes galponeras
trenzaran en la oración
al pié del mismo fogón
los gauchos de tres banderas.

(trecho de Milonga de Três Bandeiras)
 
E mandou Nosso Senhor,
O Menino de Belém,
O que em cada Natal vem,
Trazer carinho e amor,
Mas o homem - pecador,
Ao qual o dólar seduz,
Não quis compreender a luz,
Da fé e da fraternidade,
Jesus falava em verdade
E o pregaram numa cruz!

(trecho de Paraiso Perdido)
 
Negro de sorriso claro,
Como sinuelo de pampa,
Que sintetizas na estampa
Longínquas reminiscências;
Negro que lembras dolências
De alegrias e tristezas
Que andaram nas correntezas
Dos rios de muitas querências.

(trecho de Trovador Negro)
 
Deus não fez rico nem pobre,
Peão - patrão ou capataz,
Isso é o destino quem faz
E - como é - não se descobre,
O nobre que nasce nobre
Nem sempre assim continua;
Pra beleza da xirua
Ou cavalo de carreira
Não adianta benzedeira,
Nem reza ou quarto de lua!

(trecho de Payada do Negro Lúcio)
 
Patrícios são os teatinos, os que são donos de si
Fazem pátria por aí,norteando os próprios destinos.
rapsodos campesinos do velho ritual pampeano
Que neste andejar cigano de tropeiros da cultura
São vertentes da ternura do folclore americano. (Teatinos)


Mais informações e regulamento do 1º Concurso de Poesia Gauchesca "Jayme Caetano Braun", clique aqui.

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