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Festival da Barranca chega a sua 46ª edição em 2017

  A Caravana que é a abertura do Festival da Barranca está em mais um ano de sua edição para a comunidade são-borjense em geral. Devido...

 
A Caravana que é a abertura do Festival da Barranca está em mais um ano de sua edição para a comunidade são-borjense em geral. Devido às fortes chuvas e a enchente no Cais do Porto, o evento foi transferido para o Parque General Vargas.
 
O festival que é um dos mais antigos do Rio Grande do Sul em atividade sem interrupção que nesse ano está em sua 46ª edição e tem como atrações confirmadas Os Angüeras, Elton Santana, Luiz Carlos Borges, Pirisca Grecco, Zelito Ramos, Ita Cunha, Tiago Ferraz, Jader Leal, Mário Barbará, Angelo Franco e Confraria Ventania.
 
O evento aconteceu ontem e teve início às 19 horas e os organizadores arrecadaram 1kg de alimento não perecível e produtos de limpeza para os desabrigados. Por Bruno Mello


Um pouco da história do Festival da Barranca





A realização do festival à beira do Rio Uruguai é uma das características peculiares da Barranca (divulgação)

Rodolfo Sgorla da Silva

“Logo em seguidinha é Semana Santa, vou cego pra Barranca, e só depois vou vê-la”. Estes versos de “Milonga Abaixo de mau tempo”, interpretada por José Cláudio Machado, mostram o cotidiano de boa parte dos cantores nativistas gaúchos nesta época do ano. Durante a Semana Santa, o Grupo “Os Angueras” realiza o Festival da Barranca, em São Borja-RS.

Reunidos em uma pescaria às margens do Rio Uruguai, Antonio Augusto Fagundes (Nico Fagundes), Aparício Silva Rillo, José Lewis Bicca e Carlos Castilhos tiveram a ideia de criar um festival nativista em São Borja. Isso foi em 1972, e os quatro amigos foram influenciados pela Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana, que teve sua primeira edição em dezembro de 1971. Bicca e Rillo faziam parte do grupo amador de arte “Os Angüeras”, e desde a primeira edição, o festival é responsabilidade do grupo.

No primeiro Festival da Barranca, o presidente da comissão julgadora daquela edição, Cláudio Rodrigues, conhecido como “Tio Manduca”, encarregou-se de escolher o tema: “acampamento de pescaria”. Carlinhos Castilhos, Nico Fagundes e a parceria entre Bicca e Rillo foram os três concorrentes. A música “Eu e o Rio”, composta e interpretada por Nico, foi a vencedora.

A Barranca possui características peculiares, como o fato de só participarem músicos convidados pelos “Angüeras”. Miguel Bicca, irmão de José Bicca e também integrante do grupo, explica a razão para essa regra:

– Se permitirmos a entrada sem o convite, não tem como nós prevermos o número de participantes, aí dificultaria o cálculo para quantidade de alimentos. Além disso, essa é uma maneira de realizar o festival entre amigos e com músicos que tenham o perfil desejado pelo grupo.

Outra curiosidade da Barranca é que não é permitida a entrada de mulheres no festival. Miguel justifica:

– O ambiente da Barranca é muito descontraído, despreocupado, todo mundo aproveitando o festival, então muitas vezes a gente vê um cara que já está meio bêbado urinar atrás de uma árvore, ao invés de ir ao banheiro, e essa situação ficaria complicada se tivessem mulheres no festival. Além do fato de que como tem 300 participantes, teria de ter 300 mulheres também, porque não daria certo largar 100 mulheres no meio de 300 machos.

Miguel conta que em uma das edições uma mulher se vestiu com roupas de homem e entrou na Barranca, permanecendo até ser descoberta. Conforme um texto de Rillo dedicado ao festival, as mulheres também não acompanhavam os homens na pescaria, talvez por isso, não acompanhem também na Barranca.

Na cidade de São Borja, é difícil encontrar alguém que discorde das regras da Barranca. André Damaceno, natural de Santa Maria e morador de São Borja há quatro anos, demonstra sua opinião sobre o festival: “Eu acho que o evento já é tradicional e caracteriza a cidade, acredito que o festival não deve mudar seu formato, sendo que deve continuar sendo um evento só para convidados e sem a presença das mulheres. Hoje há uma necessidade em se manter as tradições”. Ivonei Amaral, que mora em São Borja há 20 anos, acha o evento favorável à cidade: “O festival projeta o nome da cidade. Antes o evento era mais restrito, mas agora tem mais visibilidade, acaba favorecendo São Borja, pois movimenta o comércio e leva o nome da cidade para todo o estado”.

Porém, essa não é a opinião da cantora nativista Natali da Silva Braga,18, e intérprete desde os nove. Sobre o fato de somente convidados participarem do festival, ela argumenta: “Eu acho ruim, pois há pessoas muito capacitadas que não têm a oportunidade de participar da Barranca”. A cantora, que já venceu a categoria Petiça da Califórnia da Canção Nativa, também é desfavorável à não-participação de mulheres no festival: “Eu sou contra, porque esse é um posicionamento muito machista. Não há motivos para não deixarem mulheres participar. Acredito que se eles abrissem espaço para mulheres agora, depois de tantos anos havendo somente participantes homens, e uma delas ganhasse, eles não aceitariam isso muito bem”.

Comunhão de Espíritos. Espíritos da amizade.

Segundo Miguel Bicca, a Barranca não deveria ser conhecida como um festival e, sim, como uma oficina de música. “A ideia não é a competitividade, a guerra comum em festivais. Nem que se quisesse se chegaria a esse ponto. Os que não passam na triagem continuam normalmente no festival e vão ajudar aos outros. É uma comunhão de espíritos porque as pessoas vão desarmadas, cantam tranqüilas. Por isso é difícil de entender. As pessoas, às vezes, ficam anos na Barranca para entender isso”. Devido à ausência de público na Barranca, outros festivais recebem músicas participantes e até vencedoras do festival são-borjense, por considerá-las inéditas.

O cantor nativista Mário Barbará, participante de 25 edições da Barranca, tem a mesma opinião que Miguel: “Faz anos que participo da Barranca e ganhei duas vezes: em 1986 em parceria com Aparício e em 1989. É um festival muito interessante, todo mundo quer ganhar, mas não existe aquela rivalidade. É uma confraternização: o pessoal toma a sua cerveja, canta na tertúlia, canta no palco. Tudo na paz”.

Miguel Bicca esclarece mais uma regra da Barranca: “Não se permite falar nem rir quando alguém está tocando. Não se paga para ouvir, então no mínimo temos que respeitar”. Contudo, Miguel, após décadas de participação, não deseja mais fazer parte da equipe de organização do festival: “Trabalho desde a segunda Barranca e agora quero curtir. Deve-se dar oportunidade para gente nova trabalhar no festival”.

A Barranca inicia na quarta-feira e se estende até o domingo. Nas primeiras edições, o tema, definido por cinco pessoas, era divulgado na sexta-feira à noite. No entanto, com o aumento do número de participantes nas edições posteriores, a divulgação da temática passou para a quinta-feira. Desde então, a sexta-feira é reservada para a composição das canções. No dia seguinte, ao meio-dia, é realizada uma triagem para determinar as vinte finalistas, que são apresentadas à noite. Na escolha do assunto, há uma consulta da lista com os temas já abordados anteriormente, a fim de não haver repetição. O festival realiza-se na propriedade de Nelson Londero, distante 13 quilômetros da cidade de São Borja, na beira do Rio Uruguai.

Para ter uma ideia, na edição de 2009, foram consumidos 400 quilos de peixe, além de cinco bois. Quantidade suficiente para fornecer três refeições para os mais de 300 convidados, que pagam as despesas quando chegam ao acampamento. Já as bebidas são pagas no momento da compra. Porém, não com o “real”, mas sim com o “manduca”, moeda oficial do festival.

Neste ano, o festival iniciou na quarta-feira, com um show de abertura. Desde a primeira edição, os “Angüeras” deixaram de lado a pescaria da Semana Santa.

Colaboração: Everton Dalenogare e Nathália Lopes

Publicação de abril de 2011 do blog Linkultura




Foto: Alan Redü

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