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A raiz da música gaúcha não pode ser distorcida

Manifesto referente à inclusão do grupo Tchê Guri entre os indicados por Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras - Regional no Grammy L...

Manifesto referente à inclusão do grupo Tchê Guri entre os indicados por Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras - Regional no Grammy Latino
Márcio Cavalli

Membro da Invernada Cultural do CTG Querência de Canela (RS)

Entre os nominados para receber o gramofone dourado no 10° LATIN GRAMMY AWARDS, na indicação por Melhor Álbum de Música de Raízes Brasileiras - Regional, entre os brasileiros, está o grupo Tchê Guri, disputando a premiação com indicados como Os Serranos. Se tal indicação leva em conta ser nativo de um determinado local, sem levar em conta aspectos culturais, então o critério de regional para o evento carece de conceituação.

Ora, são questionáveis os critérios da National Academy of Recording Arts and Sciences (NARAS), dos Estados Unidos, para a indicação do referido conjunto na categoria citada, pelo álbum A Festa. Isso porque, em termos de musicalidade "de raiz" no Rio Grande do Sul, o cancioneiro regional fixa-se no conceito de tradição, que "(...) quer dizer o culto dos valores que os antepassados nos legaram.", conforme Antonio Augusto Fagundes.

Por isso, não temos como desligar tradição de regionalismo, para cuja definição atentamos a Salvador Lamberty, no livro ABC do Tradicionalismo, citado por Manoelito Savaris em Rio Grande do Sul - História e Identidade: "(...) é a corrente artística voltada aos temas da terra e se inspira nos elos regionais. É o sentimento expresso na guarda de um patrimônio local; é a expressão do valor cultural e artístico de uma região".

A partir daí, entende-se ser indevida a indicação do conjunto Tchê Guri na categoria que premiará as manifestações musicais regionalistas do Brasil e mais propriamente do Rio Grande do Sul, estado possuidor de um patrimônio cultural imaterial que não desassocia sua música de raiz daquilo que entidades como o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF) e o Movimento Tradicionalista Gaúcho, com suas agremiações filiadas, defendem como patrimônio imaterial e cultural de um povo, perpetuando-o na sua essência.

Como parte da tradição, a musicalidade gaúcha é peculiar, assim como são outros gêneros de raiz para determinadas regiões do Brasil. Pela sua origem do gaúcho, imperam no cancioneiro os temas de linguagem simples como a vida campesina, o respeito à mulher e às instituições da sociedade, além da exaltação à natureza. Por isso, é incoerente agregar ao referido conjunto a classificação de executor de música de raiz, e muito mais grave é agregá-lo como representante um estado cuja herança, publicamente, não faz parte da manifestação artística do grupo Tchê Guri.

Assim, é cabível o questionamento aos organizadores do Grammy Latino quanto ao conceito de música regionalista para classificar os indicados ao recebimento do gramofone dourado. Isso não significa retirar o mérito artístico do Tchê Guri, mas sim apontar uma indicação coerente segundo a discografia atual do conjunto, na qual não há predominância de elementos regionais e culturais do Rio Grande do Sul predominantes para classificá-lo no segmento música de raiz.

Com a livre expressão garantida pela Constituição brasileira, é direito fazer tal apontamento de maneira investigativa, não ofensiva, não fundamentalista ou ufanista, pois esta reflexão trabalha conceitos sobre regionalismo e tradição - hoje pouco discutidos pelo fato de envolver cultura e por quase não terem espaço entre a crítica embasada, tão combatida e, ao mesmo tempo, viva entre os poucos que se arriscam a levantar questionamentos.

Tradição é manter intacto o passado no presente e garanti-lo para o futuro. Do contrário, se houver alteração, assim deixa de ser. A música de raiz do Rio Grande do Sul, assim como em determinadas regiões do país, deve ser representada por artistas que tragam em si aspectos de cada regionalismo, e não colaborar para o hibridismo (mistura). Tal classificação equivocada em um evento internacional é lamentável, pois de maneira alguma parece ter havido reflexão sobre a associação entre regionalismo, patrimônio imaterial, história, cultura e tradição.

Informações do Chasque Pampeano.

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