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História do RS: O Massacre do Rio Negro em Bagé

Adão Latorre no momento em que degola um legalista Num dia 28 de novembro, do ano de 1893, ocorre o Massacre do Rio Negro, Bagé, RS, a...


Adão Latorre no momento em que degola um legalista

Num dia 28 de novembro, do ano de 1893, ocorre o Massacre do Rio Negro, Bagé, RS, atual município de Ulha Negra, onde o carrasco maragato, Adão Latorre, degola 300 pica-paus. Contudo, segundo testemunhas oculares, tal número seria exagerado e não teria passado de 30 prisioneiros em face de que, depois de contado os mortos na batalha, estes chegariam a 270.

Sob o comando de Zeca Tavares combatentes federalistas (Maragatos) e republicanos (Pica-paus), comandados pelo general Isidoro Fernandes se enfrentaram ferozmente durante sete dias, às margens do Rio Negro, e dos relatos sobre a carnificina que lá aconteceu no decorrer desse sangrento entrevero, em 23 de novembro de 1893, consta que trezentos soldados republicanos foram rendidos mediante garantia de vida e contidos em um cercado (mangueira de pedra) para gado, que ficou conhecido como “Potreiro das almas” friamente degolados à beira de uma lagoa lá existente, embora os historiadores reduzam esse número a trinta.

Comenta-se que a degola do Rio Negro, foi muito mais uma desforra do comandante e fazendeiro Zeca Tavares, contra Maneco Pedroso, outro proprietário rural que antes havia invadido a propriedade do primeiro e lhe deixado um recado insultuoso. Conta a história, que invadida a fazenda de Zeca Tavares, por Maneco Pedroso, foi deixada sobre sua cadeira uma cabeça de porco e um bilhete: “Tua cabeça será minha”.
 
Argumento fortalecido pelo fato de que o próprio Maneco Pedroso e muitos dos degolados mantinham relações estreitas com este. Como não existem dados que assegure a veracidade de tal hipótese, ela deve ser encarada como mais uma das muitas versões não comprovadas sobre os fatos de guerra registrados em 1893.
 
Diz à tradição que entre os degolados encontrava-se um rapaz que era tocador de clarim da sua tropa. Mesmo, depois de receber o corte no pescoço, ferido de morte ele ainda encontrou forças para correr até a lagoa levando seu instrumento musical, desaparecendo nas águas escuras que o engoliram como num passe de mágica.
 
A lenda assevera que até hoje o soldado morto gosta de tocar o seu clarim nas noites de lua cheia, o que acabou dando à lagoa a fama de um lugar mágico, de onde saem notas musicais que ninguém consegue explicar, e o nome da mesma: Lagoa da Música.
 
Mas a melodia continua, amedrontando quem passa desavisado pela Lagoa da Música.
 
Desde esse dia o lugar ficou amaldiçoado.
 
O povo do lugar evita passar por ali à noite, quando os espíritos dos degolados vagam, dizem que de faca na mão, procurando vingança. Mesmo quem não passe por perto é capaz de se assustar: ouvem-se gritos, berros de gente morrendo. Muitos juram que pode se ouvir o som das gargantas sendo cortadas.
 
“300 prisioneros fueron encerrados em um corral de piedras de donde los sacaron uno por uno, a lazo, para desjarretarlos y degollarlos como reses” (Florêncio Sánchez).
 
“Relatam os sexagenários que no mais admirável recanto daquela zona, justamente no ponto onde a natureza melhor caprichou e embelezou, teve o Rio Grande do Sul, em 1893, seu acontecimento mais trágico...”.
 
“Lagoa da Música, em que há um instante em que cessa a barulhada do mato e a própria correnteza das águas modera até silenciar por completo. Em que repentinamente, um atento e religioso respeito se apossa de tudo o que estava em rebuliço, algazarra. É quando chegando às dezesseis horas, vai se realizando o encantamento daquelas águas”.
 
“Então, lá do fundo de certo trecho da lagoa vem um som harmonioso que pouco a pouco vai aumentando de intensidade, até que, aflorando à tona, estruge forte e enérgico, deixando atônitos os que não estão acostumados com ele. Mas os dali sabem que é o encantamento produzido pelo sangue de trezentos e muitos gaúchos degolados, com seus corpos atirados na lagoa, que está se realizando”.
 
“Os incrédulos dizem que os sons harmoniosos nada mais são que fenômenos da acústica. Querem explicar que no leito da lagoa, por ser lugar de carvão, deram-se escavações formando galerias subterrâneas que vão se ligar com outras já meio soterradas, existentes em terra firme, e que o ar vindo destas, ao atravessar as águas, produz como uma música de flauta gigantesca”.
 
“Os incrédulos, homens que leem livros complicados e enredadores, ignoram por certo que a água das lagoas e dos rios, na campanha, guarda consigo o espírito dos gaúchos valentes e sinceros que são pela liberdade de seu povo...”.


ADÃO LATORRE
Por Cássio Lopes

Oriundo do Uruguai fixou residência no interior de Bagé. Adão Latorre sobre o qual pesam as acusações de haver degolado no dia 28 de novembro de 1893 em torno 300 prisioneiros no combate do Rio Negro,(nos campos do atual município de Hulha Negra); segundo testemunhas oculares do acontecimento, foram degolados realmente e no máximo, 34 pessoas já que, após o combate e antes da degola, foram contados 270 mortos espalhados no campo da batalha.
 
Na importante obra “Alma, Sangue e Terra” de Cândido Pires de Oliveira, encontramos às páginas 189 e 190, uma nota sobre Latorre cujo conteúdo é uma transcrição de um depoimento do próprio Adão feito ao Sr. João Cavalheiro durante a revolução de 1923 com o seguinte teor:
 
Depois de haver participado da Guerra do Paraguai ao lado de Joca Tavares, ao eclodir a revolução de 1893, novamente, ingressou nas forças daquele general. Ao partir para a revolução, deixou em sua residência, como guardião de sua esposa e filhos, o seu pai já com avançada idade. Passando por aquele local um contingente castilhista, seus componentes assassinaram cruelmente o seu pai, conduziram ao acampamento a esposa e filhas que indefesas, foram submetidas a estúpidas sevícias. Por ocasião do combate do Rio Negro, Adão Latorre logrou aprisionar os responsáveis por aqueles crimes horrendos contra a sua família. Valendo-se de testemunhas, que identificaram um por um dos assassinos, os abateu degolados. Entre os executados estava o Coronel Legalista Manoel Pedroso.
 
No livro nº 4 dos Contratos Diversos do 8º Distrito, encontramos registrado no dia 27 de setembro de 1922 o Testamento do Lendário Cel. Adão Latorre que possui o seguinte teor: “Adão Latorre, solteiro, uruguaio, com 83 anos de idade, domiciliado no 1º Distrito a quem conhecemos e atestamos a sua perfeita sanidade, declara em seu testamento sua última vontade pela maneira seguinte: Que não tendo herdeiros necessários, descendentes ou ascendentes, embora reconhecendo verdadeiros e naturais os seus dois filhos havidos com Maria Francisca Nunes, brasileira, solteira já falecida, João Latorre com 52 anos de idade e Nicamoza Latorre com 42 anos, solteiros, uruguaios, residentes no município, deixa oito braças de sesmaria e a casa para Josefina Machado companheira com que reside, cuja área tem limites com a propriedade de Gaudêncio Furtado de Souza e a estrada real de Bagé ao Camaquã e nomeia como testados  Gaudêncio Furtado de Souza e substituto Vergílio Alfredo de Almeida. Testemunhas: Plínio Azevedo (funcionário público), José Otávio de Lima (comerciante), Miguel Ravizo (comerciante), Anaurelino Francisco Ferreira (funcionário público) e Jônatas José de Carvalho (proprietário). Escrivão ao Sr. José Maria Lopes”.
 
Adão Latorre morreu fuzilado no dia 15 de maio de 1823, no combate do Santa Maria Chica (Passo da Ferraria) município de Dom Pedrito, após sofrer emboscada dos capangas do Major  Antero Pedroso. (Irmão do Coronel Manoel Pedroso)
 
 Pedro Antônio de Souza Neto (tio Pedro), ferreiro do antigo 12º RC, hoje 3º Batalhão Logístico (Batalhão Presidente Médici), foi quem no ano de 1923, com a patente de 3º sargento do Exército, foi designado a integrar um pelotão para fazerem o translado do corpo de Adão Latorre do Passo da Maria Chica para Bagé, onde foi sepultado no cemitério dos anjos.
 
Adão deixou 13 filhos dos quais 9 eram Uruguaios e dois deles possuíam o nome de João.
 
Cássio Lopes, presidente do Núcleo de Pesquisas Históricas de Candiota, salienta que além de Adão Latorre, existiram outros uruguaios, que lutaram na Revolução de 1893, defendendo a causa Maragata, podendo destacando o valente General Aparicio Saraiva e sua força, que era composta por vários de seus compatriotas.

Distantes cinco quilômetros de Bagé o Cemitério dos Anjos, onde está enterrado Adão Latorre, mítico personagem histórico que lutou na Revolução Federalista.



Sepultura de Adão Latorre, escurecida pelo fogo para espantar as abelhas, reside esquecido em meio ao matagal - Créditos: Francisco de Assis


Fonte: blog do Léo Ribeiro

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