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Quem foi Baiano Candinho, parte II, por Léo Ribeiro

Martim Pereira dos Santos, filho de José Pereira dos Santos e Rosa Maria dos Santos, nascido em 1846 no sertão do Ceará, que utilizava...


Martim Pereira dos Santos, filho de José Pereira dos Santos e Rosa Maria dos Santos, nascido em 1846 no sertão do Ceará, que utilizava o nome de soldado de Cândido da Silveira, é o vulto histórico conhecido por Baiano Candinho que passaremos a tratar.
Os relatos sobre Baiano Candinho são diversos e carecem de um maior estudo e uma pesquisa com muito cuidado visto que, ainda agora, o assunto fervilha ali por aquela região.
Em nosso texto de hoje vamos nos ater no momento histórico em que termina a Revolução Federalista aonde Baiano Candinho foi líder maragato chefiando o Esquadrão Josaphat até a sua morte.
De sua chegada como desertor da Guerra do Paraguai até a localidade de Três Forquilhas, ali pelo fim da década de 1860, até 1895, ou seja, quase 30 anos de convivência, serão objetos de outra matéria.
O que se pode adiantar que Baiano Candinho, por sua experiência militar, por sua valentia, por sua determinação, angariou muitos admiradores e inimigos ao mesmo tempo. Por presença marcante na região foi taxado, inclusive, como um "Robin Hood", isto é, roubava dos fazendeiros no Alto Josaphat (em cima da serra) e vendia barato, ou doava, na região em que morava no Baixo Josaphat. Por medo ou respeito o "Major" Baiano Candinho fazia o controle de segurança da Serra do Pinto, a pedido do Major Voges, autoridade local. "Era a raposa cuidando do galinheiro" segundo seus inimigos políticos e pessoais.
Mas disto trataremos com mais cuidado, em outra oportunidade. O que não se pode negar eram suas habilidades ou de negociação ou de imposição pela força. Tanto é assim que em 1894, sem dar um único tiro, conseguiu tomar todo um pelotão da Brigada Militar fazendo-os se bandear para o lado maragato.
Apenas como registro, antes de entrar no tema Revolução Federalista, vamos descrever uma curta "árvore genealógica" de Baiano Candinho para que os leitores tomem um breve conhecimento de nomes citados nesta e futuras matérias sobre o assunto:
Candinho teve muitas mulheres na Colônia. A princípio viveu com a jovem viúva Anna Carolina Kratz, nascida Müller. Ela não podia ter filhos e, além disso, faleceu cedo. Candinho herdou sua propriedade.
Em 1879 ao se unir com a meio viuva Maria Witt ele tornou-se protestante. Casou no dia 15 de abril de 1879 no templo, diante do pastor Carlos Leopoldo Voges. Um mês depois, foi ao Cartório, registrar essa união, no dia 18 de maio. Na oportunidade alegou ser analfabeto e ter apenas 25 anos de idade, apresentando o nome falso de Cândido Alves da Silveira. O assentamento do registro civil pode ser encontrado no Livro de Casamentos nº 01, folha 07 do Cartório do Registro Civil, de Itati. Foram testemunhas o Major Adolfo Felipe Voges e o Professor Serafim Agostinho do Nascimento.
Maria Witt trazia da união anterior, com o falecido tropeiro Beriva Athaíde (paulista), os filhos Henrique (19.05.1875) e Geraldino (1876 - falecido em 1883).
Filhos de Baiano Candinho com Maria Witt:
1 - Ambrosina (16.12.1881) casou com Johann Nascimento Hoffmann;
2 - Angelina (1883), casou com Luiz Jorge Hoffmann;
3 - Pasqualino (08.10.1886), casou com Maria Brando;
4 - Avelino (1888), casou com "Biluca" Hoffmann;
5 - Julia (03.04.1890), sem notícias sobre o que possa ter acontecido com ela;
6 - Realina (10.10.1892) casou com Aldino de Oliveira Mello;
7 - Ernestina (1893) casou com Avelino Brando.

Sabe-se que Baiano Candinho teve, pelo menos, três filhos extra-conjugais:
1 - Constâncio Alves da Silva, tido com Maria Luisa da Silva em 04.01.1876.
2 - Johann Candea Becker, o "Cândio Beca" tido com Maria Dorothea Becker em 29.10.1879. Cândio Beca casou com "Geraldina Preta", negrinha criada por Philipp Westphalen (o Felipe Girivá).
3 - Manoel Alves da Silva Júnior, o "Candinho Gaspar" tido com a viuva Maria Stahlbaum nascida Dresbach, em 16.09.1882.
Fim da Revolução Federalista no Vale do Rio Três Forquilhas

A assinatura do armistício dando fim a Revolução Federalista pegou de surpresa o Esquadrão Josaphat, chefiado por Cadinho. Tiveram que depor suas armas e voltar a vida comum de colonos e peões. Contudo, o filho de Baiano Candinho, Henrique, resolveu seguir com o Capitão Luna e o Tenente Valdo Crespo, dois desertores das brigadas castilhistas continuando com suas vidas de arruaças. A culpa recaía sempre no Baiano Candinho que, no entanto, para fugir das possíveis perseguições, foi ser peão de fazenda no alto da serra aceitando o convite do seu amigo e correligionário Coronel Batista. Após seis meses de trabalho nas lides de campo sua esposa Maria Witt veio a falecer ao cair de um cavalo. Isto desnorteou Candinho que, junto aos filhos menores e alguma criação (gado e cavalo) voltou para sua antiga morada no Baixo Josaphat. 

Por lá ainda existiam os integrantes do Estado Maior do extinto Esquadrão Josaphat como o Luis da Conceição, o França Gross, os filhos e genros do falecido João Patrulha, o Baiano Tonho, o José Baiano e o João Baiano.

Neste meio tempo o Cemitério do Passo, dos castilhistas, foi reduzido a metade pela grande enchente de 1897 tendo ossamentas e caixões espalhados pelas margens do rio. As famílias de maragatos declaradas como "bandidos" afirmavam que os castilhistas receberam o que bem mereciam. Ali perto, no Arroio Carvalho, também existia o Cemitério do Baiano Candinho, aonde alguns maragatos haviam sido enterrados. Isto denota que embora com o tratado de paz assinado no papel, as emoções oriundas da recente guerra continuavam latejando no sangue daquele povo. 

Talvez o retorno de Baiano Candinho ao Baixo Josaphat tenha sido seu maior erro pois a ditadura castilhista, em todo o Rio Grande do Sul, vinha retalhando seus antigos opositores. Ali pelas bandas das Três Forquilhas não seria diferente.  

De fato a crueldade e desumanidade provocadas pelos vitoriosos castilhistas no vale do Rio Três Forquilhas após o término da Revolução Federalista tornou-se uma rotina com ciladas, emboscadas e verdadeiras encenações envolvendo, inclusive, cultos evangélicos de tradição luterana, tudo com o propósito de aniquilar sumariamente os "bandidos" maragatos. Para tanto foi mandado para a Colônia de Três Forquilhas, a pedido do líder castilhista Coronel Carlos Voges, o Tenente Manoel Vicente Cardoso, especialista na caça de maragatos num serviço de "limpeza" com vistas as próximas eleições. Baiano Candinho, por sua liderança política, era um dos mais visados, embora, de início, ele tenha sido "convocado" em algumas reuniões com o intuito de ajudar a terminar com o Bando do Pinto, chefiado pelo desertor castilhista e ex-membro do Esquadrão Josaphat, Capitão Luna que, de fato, continuava praticando bandidagens, saques, por toda a região tendo como refúgio a "Grota da Onça", na localidade de Contendas, São Francisco de Paula. Enrique Baiano, enteado de Baiano Candinho, integrava esse bando sendo considerado um dos piores elementos do grupo tido como estuprador e saqueador de famílias indefesas acabou sendo expulso do bando após matar um companheiro de atrocidades. A culpa (ou responsabilidade recaía em seu padrasto Candinho que, por certo tempo leva uma vida calma no seu retorno a antiga morada Três Forquilhas. 

Na verdade esta aproximação amistosa com Candinho era um embuste, uma preparação para o bote. O tenente Manoel Vicente Cardoso trazia no bolso do casaco fotografias dos "bandidos federalistas" que em 1895 invadiram Conceição do Arroio levando medo e humilhação aos seus moradores. Baiano Candinho era um deles...

Por continuar tendo forte influência na região de toda a Serra do Pinto, tendo, inclusive suas duas filhas casadas com dois irmãos fazendeiros de São Francisco de Paula, Baiano Candinho, era o primeiro da lista dos castilhistas. Um emboscada em seu rancho, quando ele não estava, resultou na morte de Bom Martim, homem de confiança de Candinho.  

E foi assim que, entre idas e vindas, num ambiente tenso, passou-se quase dois anos até que, na noite de 05 para 06 de janeiro de 1898 o subdelegado de três Forquilhas, tenente Cardoso, com seus dois auxiliares mais chegados, cabo José Pedro Custódio da Silva e o soldado João Macaco realizaram a estratégia de montar um Terno de Reis para surpreender Baiano Candinho, um nordestino devoto, na hora que recebesse os cantadores em sua morada. Tudo deu certo. 

"O Divino Espírito Santo seja sempre o seu guia.
O Divino Espírito Santo te dê toda proteção.
Santos Reis protejam o Seu Baiano Candinho
e toda sua família, que vivem neste cantinho".

.... e lá se foi Baiano Candinho, candeeiro numa das mãos, oferenda aos cantadores na outra, no breu da noite, desarmado de ferro branco e de espírito, ao encontro da morte no pátio de sua casa. 

Depois covarde emboscada o tenente Manoel Vicente Cardoso não queria liberar o corpo para sepultamento e nem certidão de óbito, o que foi conseguido, a muito custo pelos familiares, com ajuda de Carlos Voges, autoridade maior do PRR Castilhista no Vale das Três Forquilhas. 

Num caixão rústico, Baiano Candinho foi sepultado no Cemitério dos Maragatos, ou Cemitério dos Bandidos, aonde estive sábado passado. 

Depois deste fato mais de 20 maragatos foram tocaiados e mortos, mas isto já é outra história que contaremos mais tarde junto a outros (muitos) detalhes da vida deste homem chamado BAIANO CANDINHO.     



Fonte: blog do Léo Ribeiro

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