Grid

GRID_STYLE
FALSE
TRUE

Classic Header

{fbt_classic_header}

Top Ad

Últimos chasques

latest

Em "Sul", Luiz Marenco aponta para o futuro da música regionalista

Foto: Ana Bittencourt SAIBA COMO FOI O LANÇAMENTO DE “SUL”. SHOW TEVE COMO PALCO O THEATRO TREZE DE MAIO, EM SANTA MARIA Texto: Márc...

Foto: Ana Bittencourt

SAIBA COMO FOI O LANÇAMENTO DE “SUL”. SHOW TEVE COMO PALCO O THEATRO TREZE DE MAIO, EM SANTA MARIA

Texto: Márcio Grings

Esqueça a crise, pare com toda essa choradeira e celebre o melhor da vida. Quem escreve essas linhas é o primeiro a abrir o berreiro, então faço um mea culpa no alarde. O que tenho pra dizer é o seguinte: no quesito – shows, os santa-marienses não têm o que reclamar, pelo menos em 2015. De antemão, já aviso: separe uns cobres na guaiaca porque tem mais coisa buena vindo por aí. Nossa dor será amansada invariavelmente como boas doses de arte musical. Na última quinta-feira (27), por exemplo, assisti o lançamento de “Sul”, novo CD de Luiz Marenco. Eis um nome maiúsculo da nossa música regionalista sem medo de olhar para o futuro, mesmo que ainda fortemente arraigado às origens, de todo o modo, visionando atemporalidades em sua obra.

Ou meu coração está ficando mole ou estamos vivendo uma temporada de espetáculos musicais de encher os olhos (e ouvidos) de satisfação. Se ainda dentro da seara regionalista, há poucos dias assistimos ao vivo o espetáculo “Mandando Lenha”, com Bebeto Alves, num line up semelhante, Marenco apresentou sua parceria como o poeta Sérgio Carvalho Pereira. “Sul” levou oito anos para ficar pronto, no entanto, o resultado desse compasso de espera gerou um dos melhores trabalhos do gênero nos últimos tempos.

No palco, Marenco se faz acompanhado de apenas três músicos: Luciano Fagundes (violão), Douglas Vallejos (baixo acústico) e Aluisio Rockembach (acordeão e direção musical). E assim como em “Mandando Lenha”, álbum em que Bebeto interpreta as músicas de Mauro Moraes, em “Sul”, é também o violão de náilon e o baixo acústico os principais responsáveis pela sonoridade do álbum.

Na abertura com “Das precisão pra viver”, apenas o violão de Fagundes nos assombra com seus acordes milongueados. E a voz de Marenco, sua postura clássica de cantador gaúcho, com o pala acomodado elegantemente no antebraço esquerdo, nos deixa em constante atenção ao trinar do som de sua voz: “Tão pouco é o que se requer pra vida das invernadas / um ranchito meia-água / que dê pra filho e mulher”. A poesia de Sérgio às vezes versa sobre temas incrustados na erudição da vida campeira. É o caso de “Décima de mudar cavalo”. Mas quando essa parceria se fundamenta em temas gaúcho/universais como “Estrelas do chão”, um novo clássico surge exuberante; “o chuvisqueiro da tarde se foi virando aguaceiro / Entrou a noite encardida nas nuvens de pêlo osco”.

O show é repleto de silêncios e espaços vazios entre os instrumentos. O baixo acústico de Vallejos pulsa elegantemente como um dançarino de tango a meia luz. O violão evoca os guitarreiros platinos, pode insinuar acordes da MPB; valsear brincando com o jazz; ou ciscando um traço de blues. Porém, Fagundes é em primeiro lugar um violonista gaúcho, compenetrado em soar límpido em seu equilibrado virtuosismo. Já Rockenback, diretor musical do projeto e acordeonista, sabe usar as ausências e pausas. Não tocar em todos os momentos é sinal de maturidade artística. Sua gaita surge em diversos momentos em introduções de canções, em alguns solos e arranjos, como também desaparece sutilmente de cena.

Em grande parte do show, é o violão e a voz de Marenco que estão na linha de frente. Entre os destaques, “Menina, escuta teu cantor”, único tema não musicado por Marenco (Juliano Gomes o fez), “Amansador de estradas” e a belíssima “Yoyo de espinhos”.

Se alguém tem dúvida pra qual direção deve ir a música regionalista do Rio Grande do Sul, Marenco nos dá algumas pistas. “Sul” é um trabalho que se incrusta não apenas nessa época específica que vivemos, tenho certeza que será uma daquelas obras caminhantes e atemporais. Entre as nuanças, cruzamentos e acentos com gêneros diversos. Despojado de excessos e sobreposições de instrumentos, tudo soa muito claro e translúcido, como o assovio do cantor feito um condutor de tropa que volta pra casa acompanhado apenas de seus pensamentos e dos bichos ruminando baixinho.

Discos desse calibre sobrevivem ao teste do tempo, isso eu não tenho dúvida. A poesia de Sérgio e a voz de Marenco não apenas fundamentam uma ligação artística espiritual, pois, além de amigos, aquilo que está eternizado em “Sul” certamente ganha à benção de nossos heróis. É o caso de “Amadrinhador”, música dedicada ao gigante Jayme Caetano Braum:

“Quem pensa em si se basta / não conhece o mandamento: não hay tormenta sem vento / e nem cambona sem alça / uma guampa sem cachaça / cabelo negro sem flor / e nem tropilha machaça sem ter bom amansador”.

Sim, nada como boa música para amansarmos a nossa dor.


Para ver a matéria original e uma sequência de fotos, clique aqui.


Fonte: portal On The Rocks

Nenhum comentário