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"Quando morre um poeta" para Sergio Napp por Alan Otto Redü

Para Sergio Napp Hoje o dia amanheceu cinzento, depois o sol andou espiando por entre as frestas das nuvens, mas foi coisa pouca, depois ...

Para Sergio Napp

Hoje o dia amanheceu cinzento, depois o sol andou espiando por entre as frestas das nuvens, mas foi coisa pouca, depois voltou a esconder-se e permanecer-se em silêncio.

Garoa fria... Dia cinzento... Eis o cenário perfeito para notícias tristes. De mais uma perda das letras do sul. Das letras de todo o país. "Morreu o poeta Sergio Napp" alardeia toda a mídia. Por mim, se fechava todas as porteiras do Rio Grande do Sul e partíamos para prestar a última homenagem a este ilustre Poeta, que com certeza muita falta nos fará, mas impreterivelmente a vida segue como sempre seguirá. Um de seus últimos textos tratava sobre a morte, intitulado “Vida e morte". Emblemático texto. Parece que o velho poeta do sul já de certo modo prenunciava a presença maquiavélica da morte que se aproximava, para tomarem seu "Último mate...”. Coincidência ou não, o fato foi que ele, o poeta de "Desgarrados" partiu, nos deixando uma lacuna ainda imensurável em nossos corações.

Não levo sonhos na mala
Nem vícios de valentia
Eu sei, me espera uma adaga
Que pode matar-me um dia
Me jogo inteiro assim mesmo
De corpo e de coração
No espelho das avenidas
Operário, e não peão! (Retirante)

Um poeta que vestiu sentimentalmente as angústias, as asperezas e os sonhos dos menos favorecidos. Encarnou o sentido de ser humano em sua acepção maior da palavra. Um poeta que retratou em suas letras, que vieram a público nos mais diferentes festivais nativistas do Estado, uma realidade emergente, sintomática e apartidária, de um contexto social que se formava em nosso estado, como construção ideológica, a partir dos anos de 1980. O gaúcho que se construía e se reconstruía, se significava e ressignificava através da poética sulina. Os sentimentos mais simples e mais autênticos ficaram registrados em seus poemas, em seus livros e em sua vida como homem. Quem conhecer sua biografia saberá da grandeza de caráter, de princípios e do grande coração que ele possuía. Sua inteligência perspicaz, sua sensibilidade aguda, seu tato literário, com certeza nos fará falta. Sua obra ainda precisa ser consumida, ser descoberta e redescoberta. Sua visão que abarcava o ontem e o hoje, talvez tenha deixado uma profecia.

Vou guardar a foto da figueira
Gravar o grito do quero-quero
Pro meu filho conhecer
Vou pintar de verde o chão do seu quarto
E um trigal em cada parede
Pro meu filho conhecer (Armadilhas)

Quem sabe prenunciando um mundo frio onde só o que habita é a tecnologia no campo e na cidade, quem sabe o poeta já visualizando um extermínio das coisas simples da natureza, quadros que comporão o dia a dia de nossos ancestrais.

Por que não trocamos a força bruta da adaga?
Pela palavra bem dita que nos iguala e afaga!!!
(Palavra Bem Dita )

O poeta do alto dos cimos que lhe compete estar, nos propõe a uma nova tomada de posição perante seus semelhantes, para que possamos viver em um universo melhor.
Pois o destino é um fio tênue que nos escapa administrar, embora pareça que o homem a tudo pode, ele, este animal racional, “um dia acaba sem terra.”
Mas cá ficamos nós, com nossas urgências, com nossa sede por mais dinheiro, por mais consumir e ostentar. Cá ficamos nós, sem tempo para um abraço, um sorriso, um olhar e até mesmo umas lágrimas sinceras. Não temos tempo para o outro, o nosso imediatismo nos é mais importante, até porque não pensamos muito no futuro, a não ser em usufruir e consumir, num afã de mais prazer. O que nos freia às vezes, são os revezes violentos que a natureza põe em nosso caminho para que paremos, por alguns minutos e refletimos sobre o sentido verdadeiro da vida.
Por fim, ele, Sergio Napp tinha razão.

Sopram ventos desgarrados
Carregados de saudade,
Viram copos, viram mundos,
Mas o que foi, nunca mais será
Mas o que foi, nunca mais será. (Desgarrados)
Por Alan Otto Redü


Colaboração: Alan Otto Redü
Fonte: Jornal Tradição

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