CHARLA DE PEÃO *Juarez Cesar Fontana Miranda O Cagaço do Tapejara Buenas Gauchada! Orre diacho, parceiro! Tô atucanado e meio inliado...
CHARLA DE PEÃO
*Juarez Cesar Fontana Miranda
O Cagaço do Tapejara
Buenas Gauchada!
Orre diacho, parceiro! Tô atucanado e meio inliado nas voltas do doze braças.
Hoje de tardezita eu tava querendo dar uma chegada lá na pulperia, prá dar uma molhada na goela, mas acho que desse cacho não vai cair butiá.
Tudo por causa do meu pingo de passeio.
Acontece que embuçalei ele lá na aguada do potreiro. Na frente do galpão, amarrei a soga no cavalete e fui buscar a tesoura para dar uma tosada e emparelhar as clinas do meu flete – o Moro.
Já faz mais de uma hora que eu tô na peleia e não tô conseguindo desengruvinhar as clinas do cogote. Ainda nem cheguei no rabicho - prá fazê uma cola atada - e só venho levando planchaço, tchê!
- Ô Eleutério, não te faz de cusco rengo. Deixa de sê cosquento, faz uma mão aqui e vai dando uma desenredada nas clinas da cola, tchê!
- Mas que barbaridade, índio véio! Prá mim, essa inredação nas clina dus cavalo é cosa dotro mundo.
- Que coisa de outro mundo porcaria nenhuma! Isso é relaxamento de “alguém”, aqui da terra mesmo, que tinha que cuidar dos cavalos e não tá fazendo a lida como ela deve sê, não é seu Eleutério?
- Pos sim! Entonces tu não credita qui inrolação nas clina é trabaio du Caipora. Esse diabo anda pur aí, atormentanu us viajante nus corredor i us alimal nus campo.
- Deixa de sê sotreta, sô! Tu não sabes que não existem bruxas, assombração, lobisomem ou demônio. Isso tudo é estória de quem não tem mais nada prá fazê. Vais me dizer que tu acreditas nessas estórias de coisas do outro mundo?
- Pos óia só, vivente, creditá eu num credito, mas também naum duvidu, naum! Eu inté cunheçu um cuera que deu uns mangaço no lombo do Capeta, tchê!
- Mas báh, tchê! já tô com as melenas tordilhas e nunca vi nada disso, agora tu vem me dizê que existe um índio guapo que peleou com uma assombração?
- Inziste sim. O taura é o Tapejara – O Emerson Ganzer da Silva. Esse se atracô cum u Cosa Ruim, nu Saco dus Assombrado, um naco de terra que inziste na Ilha dus Marinhero, lá nas barranca du Jacuí, onde si mistura as água du Gravataí, du Caí e Du Riu dus Sinu, prá se mandá Guaíba adentro.
Pôs u Tapejara andava gauderiando por aquelas banda e num fim se semana modorrento, o horizonte se alobunô prum aguaçero e num repente, era água que Deus mandava, aí o cuera aperto u passo do pingo i logo ali adiante, foi se arrinconá no buteco do Eroni.
Mal ele chegô, bolio a perna i quanu disincilhava us pelegu, um raio istorô. I o mandado, clarianu tudu, arrebentô um ocalito nu meio; Pos num é qui u pilungo qui u Tapejara vinha muntadu si assustô, deu um rilincho i um sofrenaço na soga, qui não aguentô i arrebentô i aí, corcovianu, afundô us casco na coxilha, si mandando a la cria.
O cuera, percebenu qui agora tava a pé, mandô uma putiada pro matungo maleva e fujão, e cum u lumbilho inrriba du lombo, dum pinote só, pulô pur cima duma poça de água barrenta i si infiô buliche adrentu.
Entranu, dá uma sacudida nas paleta prá iscorrê a água e prá isquentá a goela, solta um sapucai lá do fundo do pulmão, quanu - no meio da fumaça dum fumu bem bagacera, du cigarro de paia lambida, qui pitava um mulato agringaiado – ove um grito: truucooo!!!
Atiço as oreia i já foi ovindo: retruucooo!! Erum uns índio-vago, que in volta duma mesa véia si isbaldavum numa carpeta. Atracadus num truco abagualado tavum u Alemão Barba Ruiva, u Pedro Capinero i u Juca Pescador. Insiguidita tinha mais um na jogatina: u andarengo Tapejara.
I anssim se formarum duas pareias qui si forum noite adentru. I era truco i retruco; i era vale-quatro i ínvido; i era flor i contra flor; i lá nu campu dele água, i nu buliche dele carta i us maula dele canha, inté qui de madrugadita o Tapejara, qui já tinha mamado meia guampa, imbestô que ia tilintá as espora no Bailão da Maria Conga i foi aí qui us parcero de cartiado arripiarum us pêlo.
- Tu tá é loco, Tapejara. De madrugada, chovenu e ainda atravessanu u corredor entre as terra do Adão do Charuto e a Fazenda du Clemente, tu vai é batê com us costado nas fuça do Capeta.
- Pôs toma tenência, tchê! Inda hoje a Vó Maria me fez uma benzedura prá fechá o corpo. Ela me levô lá nus costado do Jacuí, embaxo do ingazero assombradu, me botô um patuá pindurado nu pescoço e adespos me benzeu cum três gaio de arruda macho, inté disse uma reza qui eu guardei aqui drentu da cachola. Foi anssim qui ela me disse: Deus tá adiante nessa guia, u anju da guarda au lado, i a proteção de Maria, dexa u teu corpo fechado.
Ô Juca, já qui u meu pingo si iscafedeu, toma uns pila, me passa a mão im qualqué cavalo qui tive ai nu potrero i me encilha ele. Comu eu não sô cagão i, tandu de corpo fechado cum as reza da véia Maria, hoji, ninhum Cão Danado vai metê us dente nu meu garrão.
Ô Eroni, de saidera me dá um liso duplo de canha, qui é prá calibrá a corage, qui hoji si u Tinhosu si atravessá nu meu caminho, dexo u lombu dele lanhadu a mangaço e adispois vô saracotiá, cogotianu a Nega Conga.
Quanu u Tapejara já tava quase nu fim du corredor, bem na figuera du inforcadu, u chifrudu pulô na frente dele. Insigdita u ar fico impestiado de chero de inxofre i u pé de bode veio cum tudo prá cima du Tapejara.
Nu lombo da Besta Fera as clina tavum de pé, das venta du Bichorroco saia um fumacedo, dus óio saltavum umas labareda de fogo, qui chegavum a azulá, mas u índio véio, qui já vinha aprevinidu, firmo u taco da bota nus istribo, infiô as ispora nus vaziu da muntaria, quadrô u corpo prum lado i soltô u cabu du mango nu meio das guampa do Belzebu.
U Bicho Mau deu uma testaviada i u Tapejara, aproveitanu a olada, si inforquilhô nu lombu, metenu a argola du mangu nas oreia dele. U Capirotu qui tava apanhanu mais qui galo cegu im terrero de rinha, não aguentanu mais, pidiu arreglo.
- Ô gaudériu, si tu jurá pra mim, qui tu não vai não contá prá ninguém u qui si passô pur aqui, eu te primitu três pididus. Tu pode pidi, tchê!
U cuera du Tapejara, ainda batendu u cabo du reio na palma da mão, si inzibindu todu, levantô a crista, i como um galo peliador num tambor de rinhadero, foi largando falação inrriba du Escomungadu:
- Bueno, intão agora qui tu afroxo as quaiera, vamu cunversá e arresorve, duma vez, esse entrevero. Premero eu quero ficá mais bunitu i elegante que o Gardel.
- Quanu tu chegá lá na Maria Conga, teu pidido vai si realizá.
- Adespos queru a guaiaca rechiada de Onça i a mala de garupa lotada de Patacão de oro.
- Quanu tu chegá lá na Conga, teu segunu pidido tamém vai si realizá.
- Bueno, vô tá bunitu, cheio dus pila. Qui mais eu vô querê. Ahãã, já sei! Queru u meu “troçu” igualzito u du alimal qui eu vim muntadu.
- Pode dexá tudo cumigo! Quanu tu chegá lá na Nega Conga, teu tercero pidido já vai inté tá realizadu.
Quanu u Tapejara botô u pé na porta do bailão, u mulheriu caiu incima i inquantu as Onças e Patacas rolavum pelo salão, ele ia na direção du banhero, loco de curiosu prá vê todu u resultadu da tramóia cum u Cramulhão.
Abre a porta da patente, baxa as bombacha bem degavarinho, olha e dum supetão, puxa as bombacha prá cima e sai gritanu, disisperadu:
- Disgraçadu du Juca. U filhu da mãe incilhô uma égua.
*Escritor e poeta nativista
juarezmiranda@bol.com.br
jornaljrcl@terra.com.br
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