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Vinte contos gauchescos para apreciar sob a luz do lampião

Uma mistura de tradicionais contos da cultura gaúcha com histórias de pessoas comuns, traçadas no papel pelas mãos e mente de Severino R...


Uma mistura de tradicionais contos da cultura gaúcha com histórias de pessoas comuns, traçadas no papel pelas mãos e mente de Severino Rudes dos Santos Moreira. É com este conceito que a mais nova obra literária da Campanha gaúcha, o livro Sob a Luz do Lampião, será lançado no próximo dia 5 de outubro.
Conforme o seu autor, o título reúne 20 histórias, divididas em capítulos, e são o resultado de um trabalho iniciado ainda em 2009. “Comecei há três anos. Na época, tive um acidente onde acabei fraturando a coluna. Fiquei seis meses me recuperando e, com o tempo que tive, elaborei este livro”, conta Moreira.
A obra, aliás, foi concluída ainda no ano passado. Contudo, o lançamento não foi efetivado “porque, em 2012, lancei outro livro, com mil ditados gaúchos”, lembra.

Inspiração na campanha

Natural de Santana da Boa Vista, e desde 1974 residindo entre Bagé e Candiota, Moreira lembra que a fonte para sua mais nova produção conta com inspirações aspiradas ainda na infância. “Até meus 15 anos fui criado em meio à campanha. E como de costume, em dias de chuva, quase todo mundo se reunia para serviços em galpões e, ali mesmo, histórias eram contadas”, relembra. De momentos como estes, nasceram algumas de suas principais ideias. “É quase tudo parte de uma história verídica. Mas eu altero com alguns contos que invento ou com outros tradicionais da cultura gaúcha”, detalha.
Segundo ele próprio, uma inspiração “que vem da oralidade, do convívio com as pessoas”.
Questionado sobre qual o objetivo que pretende alcançar com o livro, ele diz que o destaque é apresentar um pouco da linguagem. “Todas as obras que publiquei, e agora repito, contam com um glossário com termos mais antigos da nossa cultura”, evidencia.

Produção sem fim

Em entrevista concedida ao SEM FRONTEIRAS, Moreira revela que sua intenção, daqui em diante, é publicar ao menos uma obra por ano. “Já estou com 60 anos e espero publicar tudo que tenho na minha mente e deixar de herança para as próximas gerações”, explica. E atesta: “a cada livro que termino é como um filho que nasce”.

Ele adianta que, para isso, já trabalha em duas novas obras. “Sempre que posso escrevo e vou armazenando. No momento, são dois livros em execução. Pelo menos um deles quero publicar ano que vem”, adianta. E revela: “será com causos para maiores de 18 anos, muitos deles verídicos”.

Lançamentos

Os interessados em conhecer Sob a Luz do Lampião terão duas oportunidades. No dia 5 de outubro, a obra será apresentada em um primeiro lançamento em Candiota – onde reside o autor -, durante uma mateada agendada para comemorar os 10 anos da loja Varejão. No dia seguinte, Moreira lança o livro na Feira do Livro de Bagé.

O livro, com publicação pela editora Martins Livreiro, de Porto Alegre, terá uma tiragem inicial de mil exemplares ao custo de R$ 25 cada. A aquisição, na Rainha da Fronteira, poderá ser efetivada na livrarias LEB e Nativa. Em Candiota, a comercialização já acontece diretamente com o autor.
Sob a Luz do Lampião também tem lançamento programado para a Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro. A data exata, contudo, ainda não foi definida.
O autor

Severino Rudes dos Santos Moreira é aposentado como eletrotécnico. Até 1997, trabalhava nesta função na Usina Termelétrica Presidente Médici. Já publicou outros três livros: À Beira do Fogo; Prosa de Galpão; e Como diz o Gaúcho.
É conhecido por atuar há mais de 25 anos em festivais de música nativista, das quais mais de 100 letras são de sua autoria. Também conta, em seu currículo, com mais de 50 prêmios provenientes destes eventos.
O livro em lançamento conta, na capa, com fotografia produzida pelo bageense Édison Larronda.

Prévia:  A GUAMPA REMACHADA (adaptado)

Bueno. Acho que já andei contando por aqui o causo de um touro zebu que havia na estância do João Maurílio Alves. Isso lá na costa do Pessegueiro, no interior de Santaninha da Boa Vista. É o tal causo de um baile que eu pensei que iria, mas no meio do caminho o touro me atropelou num descampado e fez com que eu subisse na única pitangueira que havia e lá no alto ficasse durante a noite toda enquanto escutava a gaita retrechando no baile. Eu “empoleirado” no alto da “reboleira” e o touro “desgranido, escarvando” embaixo. Pois é. Desta feita

“eu dancei com a mais feia como diz o ditado”, pois o touro me deu um costeio, mas Deus é justo! Se é que o “Patrão Santo” se mete nessas encrencas, pois com o passar do tempo haveria de surgir por acaso um modo de me vingar desse touro. Passado um ano. Ano e pico talvez, e eu depois da lida “mateava” à beira do rancho quando chegou por lá, o meu sobrinho e compadre José Marcelino. O índio havia terminado uma “changa” lá por Minas do Camaquã e resolveu dar uma chegada lá no rancho, para aproveitar a rica lua cheia que fazia e dar uma volteada em algum tatu. Naqueles cafundós havia mais tatu que pedra e em hora e pouca de caminhada já se podia voltar com dois ou três, afinal o bicharedo se criava lindo “no más”. Eu raramente caçava e nunca me agradou tirar a vida dos bichinhos. Só caçava mesmo de quando em vez, se aparecia um companheiro, “para dar uma volteada”.

“Tomamos aquela cambona de mate”, depois calcei umas tamancas desses “tamancão cepa de madeira”, botei uma pá no ombro e assobiando “pra cuscada” descemos sanga abaixo em direção ao Passo do Pessegueiro. Tchê de Deus. Foi menos de dez minutos e um cusquinho pitoco oveiro deu sinal lá do outro lado da sanga e assim “descambemo” ladeira abaixo em direção indicado pelo “acoo” do cusco. Cruzamos uma estirada de arame e chegamos num instante onde o cusquinho havia entocado o bicho bem na raiz de uma corticeira cuiuda de tão grande.

Oigaletê corticeira veia munaia chegava a ser peluda de erva de passarinho e com mais de braça de grossura no tronco. Cutuquei com uma vara e vi que a toca não era funda e assim me atraquei a cavar o tatu, enquanto o meu compadre segurava o lampião. Foi quando escutei aquela quebradeira de mato e foi aí que me dei conta que ao cruzar a tal estirada de arame, tinha adentrado na estância do João Maurílio e a estalaçada de mato só podia ser o touro brabo. - Tchê de Deus. De fato era o desgraçado do zebu. Meu compadre um homem bem mais novo, foi num upa e esteve lá no alto da corticeira. Quanto a mim não deu tempo para nada.

Só atinei a saltar para um lado quando o touro já vinha com aquela aspa que era uma adaga, quase me pegando, mas deixa estar que no salto me voou uma tamanca do pé e eu ligeiro como asa de beija-flor, cacei essa tamanca no ar e dei um tamancaço na ponta da aspa do touro, que não me encontrando no lugar, tinha entrado na madeira mole da corticeira atravessando de lado a lado. Tchê de Deus. Fedeu a chifre queimado, pois no atrito com a madeira tinha amolecido a aspa do touro e com a força medonha que sentei a tamancada a ponta se remachou igual um bolo frito travando o animal no tronco da corticeira. Foi um “santo remédio”.

Cavei a furna, quebrei o pescoço do tatu e “peguemo” o rumo do rancho deixando o touro “atarraxado” pela aspa lá na corticeira. Passados uns dois ou três dias eu campereava lá no potreiro do fundo, quando vi no outro lado da cerca o touro, com uma aspa que era uma adaga de tão comprida e a outra que era um canivete de tão curtinha, pois tiveram que passar um serrote na guampa para mó de soltar o danado da corticeira. Dias depois encontrei o seu “Libório” que era o capataz da tal estância e indaguei se o touro continuava muito brabo, foi então que me respondeu que estava cada vez pior. Atropelava até “de á cavalo”, mas que agora já tinham aprendido a lidar com o tinhoso. - Era só mostrar uma tamanca que o danado se ia ao mato, ficando dias e dias “acoitado” por lá! “Ôrre bem feito”... Aprendeu desgranido!


Fonte: Rádio Fronteira Gaúcha

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