Relíquia encontrada durante obras de restauro agora opõe prefeitura de São José do Norte e Instituto Histórico e Geográfico Na cidade q...
Relíquia encontrada durante obras de restauro agora opõe prefeitura de São José do Norte e Instituto Histórico e Geográfico
Na cidade que assistiu à mais sangrenta batalha da Revolução Farroupilha, a guerra ainda não terminou. Depois do confronto que opôs farrapos e imperiais em São José do Norte com armas e canhões, em 1840, uma relíquia redescoberta do período é agora alvo de uma luta judicial entre a prefeitura e o Instituto Histórico e Geográfico.
Encontrada em 2011 por operários que trabalhavam em uma obra de restauro de uma das mais antigas construções do município, o solar Gibbon, uma baioneta que teria sido usada no célebre confronto tem sua posse disputada nos tribunais. E, como em qualquer peleia, cada lado tem a sua versão dos fatos.
Segundo o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São José do Norte, Fernando Costamilan, a baioneta lhe foi entregue em 4 de julho de 2011 pelo mestre de obras da empresa contratada pela prefeitura para realizar a obra, porque suspeitavam que aquele “pedaço de ferro” poderia ter valor histórico e sabiam do seu apreço “por coisas velhas”. Emocionado com o achado da peça, idêntica à que estampava o brasão da então República Rio-grandense, Costamilan procurou especialistas em arqueologia para restaurá-la, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Só que, na visão da prefeitura, Costamilan teria se apropriado indevidamente da relíquia. Para recuperá-la, o município ingressou em 5 de setembro de 2012 com uma ação de reintegração de posse. E chegou a ganhar uma liminar na Justiça de São José do Norte ordenando a devolução da peça. Costamilan não se deu por vencido e entrou com um recurso no Tribunal de Justiça, conseguindo suspender a determinação.
– A guerra continua, hoje pela preservação da história do Rio Grande do Sul. A baioneta não é do município, é da União, porque foi encontrada debaixo do solo – critica Costamilan, salientando que a ação foi iniciada na administração anterior.
– O Fernando tem essa coisa de Bento Gonçalves, ele incorporou e ainda acha que a guerra não acabou, seja o governo que for. A peça foi retirada de um prédio do município, precisamos recuperá-la para dar a devida destinação – responde o procurador-geral do município, Alexandro Machado Gonçalves.
Atualmente, a baioneta encontra-se no Laboratório Multidisciplinar de Investigação Arqueológica da UFPel. De janeiro a agosto deste ano, seis pessoas trabalharam na recuperação da peça, sob a coordenação do professor Jaime Mujica. Como o processo segue na Justiça, ninguém sabe qual será o destino final da baioneta que teria ficado como herança do combate que enfileirou centenas de corpos pelas ruas de São José do Norte há 173 anos. Naquela vez, os farrapos perderam, mas com dignidade. Aconselhado a incendiar o povoado para criar um cerco de fumaça para afugentar os imperiais, Bento Gonçalves teria dito uma frase que ainda hoje serve de inspiração:
– Por tal preço não quero a vitória.
Fonte: Zero Hora (onde é possível assistir um VÍDEO: a expedição em busca das relíquias) e Rádio Fronteira Gaúcha
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