Somos o resultado dessa matriz. Mescla de três raças. Ainda quando aparentamos ser uma apenas. Não há um cavalo no alpendre nos esperando ag...
E o tempo, esse deus soberbo e indiferente, realmente passou. Sobrevieram as regras e a diferenciação se fez sentir. Aqui a última flor do Lácio na língua de Camões. Ali - não mais que ali - a língua daquele cavaleiro que enfrentava moinhos nas sendas da Andaluzia. Porém, de uma forma misteriosa, ainda nos soam naturais tantas palavras e costumes antigos. Por essa razão, a seiva índia de um mate nos aquece tanto o espírito. Rastros invisíveis que as legislações não foram capazes de extinguir. Por essa razão, talvez, uma milonga ou um tango parece ter um eco dentro da nossa alma, assim como se houvéssemos já escutado a melodia em outra ocasião, ainda que seja a primeira vez que a ouvimos. E, talvez, a tenhamos escutado (porque não?), em algum cerco a um fortim de fronteira; em alguma noite de ronda nos varzedos sulinos; em alguma charla sob a sombra de uma figueira centenária.
As fronteiras políticas não coincidem com as fronteiras geográficas ou sociais. Para o resto do planeta somos gaúchos, ou gauchos; esse tipo único no mundo, nascido nas correrias de três séculos. Mestiços somos. Três raças vivem em nós. E essa é a nossa identidade; não a da roupa que vestimos, mas sim a que se encontra sob a pele. E por essa e tantas outras razões, é que não precisamos que outros entendam porque gostamos de ritmos tão nostálgicos ou de uma bebida tão amarga. Somos assim. Nem melhores, nem piores. Apenas assim. Essa é a nossa identidade.
Martim César Gonçalves
Publicado na coluna Gente Fronteiriça do Jornal Fronteira Meridional em 24/07/13
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Fonte: Confraria dos Poetas de Jaguarão
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