Segue abaixo o texto escrito pelo Poeta Mauricio Raupp Martins, para a Apresentação do 27 º Reponte da Canção Nativa de São Lourenço do Su...
Segue abaixo o texto escrito pelo Poeta Mauricio Raupp Martins, para a Apresentação do 27 º Reponte da Canção Nativa de São Lourenço do Sul
Primeira edição do festival pós a cheia que devastou não só a cidade como também muito do espirito lourenciano...
"Quando as águas de março vieram, para alguns já não houve abril, não houve tempo. O tempo deixou de existir. Agora habitam a eternidade do que nunca morre, sobrevive na memória e ressuscita- de quando e quando, na boca dos que prosseguiram depois daquele março. Nem o mais pessimista poderia imaginar que as águas – que sempre caíram em outros lugares, casas e vidas poderiam sair da televisão, nos invadindo, roubando promessas de vida.Nem o mais otimista poderia imaginar que depois do caos, que tudo destrói para que algo renasça, o amor resistisse, sobrevivesse aos escombros, ao lodo, ás águas. Se a vida nos distingue, e muitas vezes nos separa – o caos nos iguala, e depois de igualados regressamos diferentes. No caminho do encontro encontramos o caminho e agora sabemos que a nossa dor é igual ou menor que a do outro, dos outros, porque agora a dor é nossa. Já não estamos sós, somos todos um todo chamado São Lourenço. E depois das águas, do céu cinza, um dia teria de retornar o sol ao sul, a São Lourenço do Sol, porque a vida nos empurra e estamos fadados ao futuro. Por isso, depois que as águas se foram, prosseguimos enchente de um tempo chamado vida e de um rio chamado tempo. Um rio que atende por muitos nomes e um único sobrenome: POVO. Rio Inesgotável que passa, mas permanece, que é sempre outro e o mesmo porque feito sempre da mesma humana matéria. Depois de nós, o amanhã e depois de amanhã os que vierem de nós, sempre outro, mas sempre com os mesmos traços e identidade. Para isso nascemos e amanhecemos a cada dia como a cada dia cada povo trava a sua batalha. A nós tocou descobrir a argamassa da reconstrução, sólida, diária, solidária. E começamos limpando as casas, depois os olhos e foi ai que vimos o novo, o que está além do inventário da dor, do passível de ser enumerado, calculado em cifras, que está além das televisões, máquinas de lavar , geladeiras, fogões e tudo que é produzido em série e pode ser comprado de novo e amanhã, de novo, será velho, porque depois de recuperar todas as coisas ainda saberemos que elas apenas servem para servir a vida e a vida não se repete. Por isso a lágrima pelos que partiram e no abraço do reencontro, pela simples e imensa alegria de saber que o outro esta vivo e bem. Depois de iluminados por essa descoberta, por aqui, nessas casas – agora limpas – ainda habitarão muitas vidas, nas paredes reerguidas dormirão quadros de filhos e netos, por estas ruas gerações futuras caminharão livres e cada árvore replantada tem a sua sobra guardada para os que vierem depois, assim como cada ponte reerguida sempre unirá o passado e o presente. Depois que tudo estiver igual ao que era antes, ainda seguiremos diferentes, prosseguiremos enchente, seguiremos em frente, porque este é o destino dos rios e assim seguiremos andando “curtidos de soledad y con nosotros nuestros muertos pa que nadie quede atrás”. Sim um dia o sol teria de voltar ao sul, a São Lourenço do Sol e agora já podemos cantar e cantando celebrar a vida, a solidariedade, o amor terra. Dizem que quando o homem trabalha Deus o respeita e quando o homem canta Deus o ama. Que cumpramos bem as duas tarefas, que com trabalho ergamos um lugar melhor ainda e cantemos o melhor lugar do mundo, a nossa aldeia, a nossa São Lourenço do Sul. Bem vindos ao 27 Reponta da Canção.
*Referências: Tom Jobim; Manuel Capella, Jorge L Borges; Tagore, Atahualpa ypanqui"
Colaboração: ALAN OTTO REDU
(53) 8117-4573
(53) 3252 4206 - COMERCIAL
Primeira edição do festival pós a cheia que devastou não só a cidade como também muito do espirito lourenciano...
"Quando as águas de março vieram, para alguns já não houve abril, não houve tempo. O tempo deixou de existir. Agora habitam a eternidade do que nunca morre, sobrevive na memória e ressuscita- de quando e quando, na boca dos que prosseguiram depois daquele março. Nem o mais pessimista poderia imaginar que as águas – que sempre caíram em outros lugares, casas e vidas poderiam sair da televisão, nos invadindo, roubando promessas de vida.Nem o mais otimista poderia imaginar que depois do caos, que tudo destrói para que algo renasça, o amor resistisse, sobrevivesse aos escombros, ao lodo, ás águas. Se a vida nos distingue, e muitas vezes nos separa – o caos nos iguala, e depois de igualados regressamos diferentes. No caminho do encontro encontramos o caminho e agora sabemos que a nossa dor é igual ou menor que a do outro, dos outros, porque agora a dor é nossa. Já não estamos sós, somos todos um todo chamado São Lourenço. E depois das águas, do céu cinza, um dia teria de retornar o sol ao sul, a São Lourenço do Sol, porque a vida nos empurra e estamos fadados ao futuro. Por isso, depois que as águas se foram, prosseguimos enchente de um tempo chamado vida e de um rio chamado tempo. Um rio que atende por muitos nomes e um único sobrenome: POVO. Rio Inesgotável que passa, mas permanece, que é sempre outro e o mesmo porque feito sempre da mesma humana matéria. Depois de nós, o amanhã e depois de amanhã os que vierem de nós, sempre outro, mas sempre com os mesmos traços e identidade. Para isso nascemos e amanhecemos a cada dia como a cada dia cada povo trava a sua batalha. A nós tocou descobrir a argamassa da reconstrução, sólida, diária, solidária. E começamos limpando as casas, depois os olhos e foi ai que vimos o novo, o que está além do inventário da dor, do passível de ser enumerado, calculado em cifras, que está além das televisões, máquinas de lavar , geladeiras, fogões e tudo que é produzido em série e pode ser comprado de novo e amanhã, de novo, será velho, porque depois de recuperar todas as coisas ainda saberemos que elas apenas servem para servir a vida e a vida não se repete. Por isso a lágrima pelos que partiram e no abraço do reencontro, pela simples e imensa alegria de saber que o outro esta vivo e bem. Depois de iluminados por essa descoberta, por aqui, nessas casas – agora limpas – ainda habitarão muitas vidas, nas paredes reerguidas dormirão quadros de filhos e netos, por estas ruas gerações futuras caminharão livres e cada árvore replantada tem a sua sobra guardada para os que vierem depois, assim como cada ponte reerguida sempre unirá o passado e o presente. Depois que tudo estiver igual ao que era antes, ainda seguiremos diferentes, prosseguiremos enchente, seguiremos em frente, porque este é o destino dos rios e assim seguiremos andando “curtidos de soledad y con nosotros nuestros muertos pa que nadie quede atrás”. Sim um dia o sol teria de voltar ao sul, a São Lourenço do Sol e agora já podemos cantar e cantando celebrar a vida, a solidariedade, o amor terra. Dizem que quando o homem trabalha Deus o respeita e quando o homem canta Deus o ama. Que cumpramos bem as duas tarefas, que com trabalho ergamos um lugar melhor ainda e cantemos o melhor lugar do mundo, a nossa aldeia, a nossa São Lourenço do Sul. Bem vindos ao 27 Reponta da Canção.
*Referências: Tom Jobim; Manuel Capella, Jorge L Borges; Tagore, Atahualpa ypanqui"
Colaboração: ALAN OTTO REDU
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