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Vinicius Brum: A canção gaúcha

As culturas que buscam afirmar suas características regionais, segundo o enfoque dos mais variados estudiosos das questões identitárias, a...

As culturas que buscam afirmar suas características regionais, segundo o enfoque dos mais variados estudiosos das questões identitárias, alinham-se numa posição de contrariedade à globalização


Vinicius Brum
Compositor e mestre em literatura

A canção popular de inspiração rural do Rio Grande do Sul constitui-se em vasto material no qual se pode estudar as características formadoras da nossa cultura, por meio das inquietações, talvez coletivas, trazidas por este indivíduo-autor-cantador localizado como gaúcho. Seus percalços, seus arroubos, suas conquistas, seu cotidiano, tudo está, parece, contemplado nas letras e nas melodias cantadas que temos apreciado nos últimos 60 anos.

Quando Barbosa Lessa, reconhecendo a inexistência de repertório gaúcho, trata de criar suas próprias canções, o faz pelas inesgotáveis cidadelas do imaginário que compõem os tesouros culturais de um povo. E ocupar esse vazio era dar voz reconhecível ao gaúcho. E, nessa voz, ecoam os medos, as ânsias, as pedras no meio do caminho, as carretas, os bois, os amores, as boleadeiras, a tradição. Tudo faz parte do microcosmo que se configura como o pago. O lugar do qual não se quer partir – e, partindo, se deseja voltar. Esse sentimento, esse nativismo, é constituinte das manifestações regionalistas.

As culturas que buscam afirmar suas características regionais, segundo o enfoque dos mais variados estudiosos das questões identitárias, alinham-se numa posição de contrariedade à globalização. Cabendo sempre que se ressalte a dificuldade enfrentada por tentativas de preservação dentro de uma realidade mundial, que tende inexoravelmente à dissolução das fronteiras diante da possibilidade cada vez mais veloz e abrangente dos intercâmbios culturais.

“Certas canções que ouço / Cabem tão dentro de mim / Que perguntar carece / Como não fui eu que fiz” (Tunai/Milton Nascimento). E parece existir uma imensidão de canções que, apagada a autoria, sobrevivem como propriedade coletiva. Essas canções continuam sendo produzidas, difundidas e cantadas com rara identificação pelos palcos, pelas rodas domésticas, pelas emissoras de rádio, nas praças e nos bares das cidades, em cada festival, em cada lugarejo. Cantamos para quase tudo: gritar, amar, doer, chamar, ouvir. Mas cantamos sempre para perguntar quem somos, e cantando respondemos: “Gaúcho eu sou”, “Eu sou do sul”, “Ouve o canto gauchesco e brasileiro”!


Fonte: Zero Hora

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