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Cancioneiros das Coxilhas do Infinito

 Adelar e Honeyde Bertussi - Ao fundo, a casa da família em São Jorge da Mulada, Criúva, na época pertencente a São Francisco de Paula R...

 Adelar e Honeyde Bertussi - Ao fundo, a casa da família em São Jorge da Mulada, Criúva, na época pertencente a São Francisco de Paula RS
 
Talvez a história musical da família Bertussi tenha como origem a nomeação, nos idos de 1914, pelo então presidente do estado do Rio Grande do Sul, Antônio Borges de Medeiros, do maestro Oswaldo Cornelius para constituir e reger a Banda Musical de Criúva, hoje distrito de Caxias do Sul, na época pertencente ao Município de São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul.

Entre seus componentes discípulos, encontrava-se Fioravante Bertussi, originário de São Sebastião do Caí e pai de Honeyde e Adelar, que viriam a formar a mais famosa e importante dupla de acordeonistas do Brasil, Os Irmãos Bertussi, cuja obra, em conjunto ou separadamente, tem o papel de colunas alicerçadoras na construção de especial vertente dentro do quadro da música regional do Rio Grande do Sul e gaúcha do sul do Brasil.

Em 1918, o maestro Oswaldo teve de deixar Criúva e entregou todo o material da banda a Fioravante, que assumiu a regência e, por dez anos seguidos, dirigiu, ensinou e escreveu para todos os instrumentos, ampliando a banda que chegou a compor-se de dezenove figuras.

Em 1932, depois de uma breve passagem por Vila Velha, Vacaria, Fioravante Bertussi volta em definitivo para São Jorge da Mulada, onde instala a sede da Fazenda Bertussi. Em 1937, Fioravante constrói uma usina hidrelétrica que forneceu energia para o distrito de Criúva até o ano de 1982. Com a chegada da luz elétrica, as noites já não eram mais as mesmas na Fazenda Bertussi. Assim relatou Honeyde:

“Essa mudança brusca da vela, do candeeiro, do lampião para a luz elétrica e para o rádio, foi o máximo possível para aquela época. No final de 1937, eu já ouvia músicas de rádios de Buenos Aires e do Rio de Janeiro. Tangos, milongas e valsas argentinas, sambas, choros e marchinhas de carnaval. De São Paulo escutava Alvarenga e Ranchinho, Raul Torres, Serrinha e Arnaldo Meirelles. De Porto Alegre, Pedro Raimundo tocando e cantando a música do sul....

Na Mulada, a partir de 1930, iniciou-se o povoado, onde se construiu uma capela em homenagem a São Jorge Certo, para nós um homem a cavalo era melhor, ainda mais, Santo! Aos poucos, São Jorge da Mulada foi crescendo e lá pelos idos de 1940, com a instalação de muitas serrarias, as festividades iam aumentando.

Com gente de São Marcos, Criúva, gaiteiros serranos, muitos e muito bons, orquestras de Caxias eram contratadas para tocar nas festas e bailes. Nessas orquestras, os gaiteiros já tinham gaitas apianadas, muito bonitas e modernas..., era isso que eu precisava..."
 
Um fato pitoresco viria a acontecer e tornar-se um marco em 8 de maio de 1942. Assim contou Honeyde:

Uma chuvarada muito grande fez encher o rio da Mulada. A orquestra que ia toca o baile em São Jorge não consegue passar. Me tiraram da cama lá pelas nove da noite, para tocar para aquele povo que estava reunido. Fui de gaita de boca e violão, e meu irmão Valmor levou um chocalho e o acordeão para mim. Nos saímos muito bem.

Naquela mesma noite, acertei um baile, o primeiro na minha vida. Contratante: Saturno Gomes, de muita coragem.

Passei a estudar tudo sobre o acordeão: música no papel e decorando certo o que eu ia aprendendo, tendo nos velhos gaiteiros todos os exemplos de harmonia, ritmos e compassos. Os diferentes gêneros, esses eu encontrei nas livretas de banda de música, na qual papai foi maestro.

Quando ele percebeu minha facilidade e minha dedicação em arte musical, pegou as duas clarinetas e passou-me a dar instruções musicais. Papai empolgou-se e resolvemos formar um conjunto com os outros três irmãos. Compramos um sax alto para o Wilson e o Valmor passou a usar a bateria que tinha sido da banda da Criúva. Logo o Adelar entrou tocando pandeiro e cavaquinho e mais tarde acordeão. Formamos o conjunto “Dois Porongos Acoierados”, que tocou muitas festas nos municípios da região.

Em 1946, os irmãos Wilson e Valmor compram um caminhão, Fioravante transfere-se para Caxias do Sul e o conjunto passa a reunir-se somente para tocar as festas do padroeiro dem São Jorge da Mulada. Honeyde continua estudando, agora com o maestro Victor De Lazzer, em Caxias do Sul, tocando bailes e festas com grande atividade, já colocando nos anúncios o aposto “Cancioneiro das Coxilhas”. A partir de 1947, Adelar, já com domínio total do instrumento, passa a acompanhar Honeyde em todas as apresentações.

Em 1949 foram contratados para uma apresentação da recém inaugurada Rádio Erechim, na cidade de mesmo nome. O apresentador do programa Álvaro Aquino, apresentou a dupla como “Os Irmãos Bertussi – Os Cancioneiros das Coxilhas”. Essa foi a “cerimônia” de batismo.

Em 1955, com a gravação e o lançamento em nível nacional, do primeiro LP “Coração Gaúcho”, pelo selo da Copacabana, e a veiculação de reportagem na revista semanal “O Cruzeiro”, então a mais importante em circulação no Brasil, consolidava-se o caminho para levar a música Bertussi para inumeráveis recantos da Pátria.

Foram duas décadas de intenso trabalho. Centenas de shows, festas, bailes e muitos LPs gravados.. No entanto, foi na música para dançar que se criaram e consolidaram alguns ritmos como samba campeiro e estilos que, mais tarde, passariam a servir de vertente para centenas de outros conjuntos musicais importantes do Rio Grande do Sul.

O pioneirismo dos Irmãos Bertussi, entre outros aspectos, reside no trabalho inovador de juntar, pela primeira vez, dois acordeões, executando com exímio e perícia, musicas previamente escritas e arranjadas para os dois instrumentos, construindo um resultado sonoro e rítmico absolutamente inédito que, com o passar dos anos, viria concretizar o que hoje genericamente se intitula, no sul do Brasil, de música fandangueira.

Em 1965, a dupla desfez-se, passando seus integrantes a formar conjuntos próprios que continuaram a trajetória de apresentações em shows e bailes e a produção de novas músicas e novos discos.
 
Adelar formou com Itajaiba Matana a dupla chamada Os Cobras do Teclado e, mais recentemente, veio a tocar com seu filho Gilnei no conjunto Os Bertussi. Honeyde, por sua vez, formou com seu filho Daltro Bertussi  a dupla chamada Os Bertussi e, posteriormente, continuou com o sobrenome Bertussi ao tocar com Paulinho Siqueira.
 
Os Irmãos Bertussi ainda vieram a tocar juntos em apresentações esporádicas em homenagens a dupla. 
 
Honeyde veio a falecer num dia 04 de janeiro de 1996 e Adelar no dia 30 de setembro de 2017.
 
Foram formar a dupla CANCIONEIROS DAS COXILHAS DO INFINITO.
 
 
 Memorial Os Irmãos Bertussi


Fonte: blog do Léo Ribeiro

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