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De Prenda à Mulher: a evolução da imagem feminina no Rio Grande do Sul

"Como assim de prenda à mulher? O gaúcho não falou sempre bem da sua amada? O que mudou? Não existia gaúcho romântico? Se falava em...

"Como assim de prenda à mulher? O gaúcho não falou sempre bem da sua amada? O que mudou? Não existia gaúcho romântico? Se falava em que então? O gaúcho era machista?"


Buenas amigos, como estão? Falar do papel da mulher sempre é complicado, principalmente no Rio Grande do Sul, que sempre teve o homem como figura principal em sua história, e a mulher ficou em segundo plano. Enquanto o homem ia para as batalhas épicas, a mulher ficava em casa, cuidando das crianças e da estância. Pelo menos isso é o que a grande maioria dos autores contam...

Porém, tivemos a grata surpresa em encontrarmos em uma obra de uma escritora caxiense, chamada Lisana Bertussi, algumas lacunas que não haviam anteriormente sido preenchidas. Afinal, se hoje a maioria dos poetas e compositores gaúchos exaltam suas amadas, porque na história não se encontra isso? E através dessa obra, chamada "Literatura Gauchesca do cancioneiro popular à modernidade" de 2016 (a primeira edição foi em 1997) é abordado um capítulo inteiro para MULHER de outrora, sob a visão dos poetas da época, trazendo EXEMPLOS de estrofes que explicam cada fase.

Então se tu queres saber um pouco mais dessa história, CONTINUA LENDO que com certeza tu vais aprender muita coisa boa!

"(...) Hoje, um dos mais polêmicos críticos do Movimento Tradicionalista, Tau Golin, em seu "Por baixo do poncho" diz:

Os tradicionalistas institucionalizaram uma palavra que expressa realmente o conceito social e emocional que possuem em relação à mulher: "prenda". O seu significado qualquer dicionário nos dá: acessório, adorno, coisa que se possui, que se usa, se ocupa, etc..."

Essa ideia do uso da palavra prenda, até não vejo com grandes problemas, pois na verdade ao passar do tempo ela adaptou-se na verdade, onde o homem é o peão, e a mulher é a prenda, e prenda passou a ser a Mulher Gaúcha, logo, é mais uma questão de "evolução" da palavra, por assim dizer...

A autora cita como exemplo a poesia do Tatu. Sim, o Tatu com volta no Meio, que é dançado hoje por praticamente todos os CTGs, onde traz a figura do Tatu como um Herói, como um Homem que vive em liberdade, que roda o mundo inteiro, mas que ao voltar para casa, todo machucado do percurso, precisa dos cuidados da sua "tatua", e como a autora diz: "o Tatu é ainda pretensioso, desafiando a mulher, no sentido de substituí-la, se ela não assumir este papel". Da uma olhada:

"Se quiser curar, me cure,
Não lhe faltando vontade
Que senão eu vou-me embora
Lá pra casa da comadre." 

Agora, em outra poesia conhecida e dançada, a Chimarrita, nota-se que retratam a mulher como velha ou pobre, mas que não deixa de sonhar, e para isso precisa mentir para si mesma...

"Chimarrita é altaneira
Não quebra nunca o corincho
Diz que tem trinta cavalos
E não tem nenhum capincho."
 
Já o Balaio, traz outra referência, principalmente quanto ao machismo. A quadrinha em questão, não são tradicionalmente conhecidas, porém foram retratadas por Augusto Meyer em 1952.

"Quero dar a despedida
Como deu a Saracura
Os ciúmes da mulher
Com o chicote é que se cura."

O que dizer então, quando o homem classifica a mulher como mais um de seus "objetos", sendo de menos importância que o seu cavalo, como o exemplo a seguir:

"Estou velho tive bom gosto
Morro quando Deus quiser
Duas penas levo comigo
Cavalo bom e mulher."

"No século XX, inicialmente, a poesia reafirma pela imagem feminina a ideologia machista que a considera como "prenda", objeto secundário no universo masculino, mas haverá agora um percurso evolutivo, que acabará por delineá-la mulher por inteiro."

"Em Augusto Meyer, ela é ainda imagem vaga, pretexto para falar dos sentimentos do poeta ou, reforçada sua falta de identidade, a mulher é vista apenas parcialmente por uma qualidade exterior: a aparência. Leiamos o poema, não gratuitamente intitulado Bonita":

"Bonita, bonita
Quem foi que te achou
Ninguém não me achou
meu bem Madrinha
meu bem não chegou"

Dá para notar que os autores não tinham a mínima sensibilidade para falar da Mulher... Ou por não quererem, ou por não ser o "correto" para a época...

Já o "Tropilha crioula e gado xucro" de Vargas Netto, mostra o gaúcho que não é comprometido com a sua mulher, e ao contrário, faz questão de mostrar que não é de uma só, trazendo a figura de que o homem não foi feito para andar "preso", e sim para ser "passarinheiro":

"Eu não aguento a carona
Que o teu capricho requer
Sempre fui passarinheiro
Pra volteio de mulher."

Apenas com Aureliano de Figueiredo Pinto é que alguns poemas começam a mudar. Agora, já trazendo alguns traços da personalidade feminina, mesmo que de certa forma agressiva. Pelo menos foi um começo. Vejamos:

"Linda macia, morena
mais mansa que mate doce
que a gente perto se baba
Ah!... Amigos! quando embrabece
a bugra antiga aparece
peleando à porta da taba"

Mas o maior salto em relação a essa mudança na forma de caracterizar as mulheres, se deu com Apparício Silva Rillo, em seu poema "Chinoca", onde ao final, desmascara os poetas anteriores a ele, mostrando que sempre  mentiram quanto a falta de importância da mulher:

"Chinoca que a legenda dos poemas
fez morena, fez bonita
vestida sempre de chita
cabelo sempre trançado,
na trança sempre uma flor.

Chinoca que o embalo das cantigas
fez esguia como os juncos,
de olhos grandes cor da noite,
boca sempre de pitanga
coração sempre feliz...

Por que será que os poetas
por que será que as cantigas
gostam tanto de mentir?"
 
Porém o maior movimento para expor este falso mundo, e totalmente machista do poeta gaúcho, foi um movimento musical: a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana!

Já na sua primeira edição, diversas músicas apontaram este tema, querendo dar um choque de realidade do universo tradicionalista gaúcho.

Janaíta - Cláudio Boeira Garcia e José Valdir S. Garcia:

"Janaíta sete irmãos
Janaíta pai peão
Janaíta, não diz não
Janaíta, não diz não."

Leontina das Dores - Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcelos:

"Pra dentro Maria Leontina
Menina não vai pro galpão
Leontina de quarto e sala
Leontina de quarto e prisão."

E para encerrar, deixamos as palavras da autora.

"Ponto culminante do percurso de poetização da emancipação da imagem da mulher, na poesia regionalista gauchesca do Rio Grande do Sul, pode ser considerado o momento em que a mesma abre espaço para a sua fala, na poesia, adquirindo, por um lado, plena consciência de seus papéis sociais, por outro, desmitificando o feminismo estereotipado e reclamando uma participação efetiva e madura no mundo. Observemos, para finalizar, "Mulher", título da música de Sérgio Napp e Marlene Pastro:"

"As mãos que afagam o teu corpo
também te curam as feridas
a mesma boca que beijas
serviu de aviso às intrigas.
 
Contigo lavrei essas terras
com meus braços de alegria
não abro mão dos meus dengos
buscando minha alforria

Se em mim apagas teu fogo
e o teu gozo de viver
sou feita do mesmo barro
também quero ter prazer

Matei a sede que tinhas
domei as tuas canseiras
plantei, pari, fui teu pouso
não sou rama, sou figueira

Me enfeito pro teu agrado
me entrego se me acarinhas
me nego se vens de espora
me querendo por bainha

Por certo não fui criada
apenas para ser fêmea
ou pra enfeitar teus fogões
quero ser tua alma gêmea."

Imagine só, o que diriam os poetas de antigamente ao ler essa poesia...


Para ver a matéria original e as outras fotos, clique aqui.

Fonte: portal Estância Virtual

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