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Tesouro Encontrado: Manuscrito inédito de Lobo da Costa

Nasceu em 10/09/1792 aquele que seria chamado de José Cipriano Eduardo Joaquim Berlinguero Guasque, chamado simplesmente de Don José Guasque...

Nasceu em 10/09/1792 aquele que seria chamado de José Cipriano Eduardo Joaquim Berlinguero Guasque, chamado simplesmente de Don José Guasque. Perdeu a mãe cedo, mulher de sensibilidade, pois vinha de uma família que se dedicava a fazer quadros da até então, orgulhosa Marinha Espanhola, seu pai e seu irmão eram famosos, os Berlinguero, pelos belíssimos navios pintados em gravuras, conservadas até hoje.

Ainda jovem vê a Espanha ser invadida, e humilhada por Napoleão, se torna militar da marinha, mas irá em breve se apresentar como jornalista. Ao se casar com Maria de La Cabeza Josefa Juana Terron y Hidalgo, se vê perseguido pela suas posições políticas e tem que fugir, ele havia participado ativamente do chamado “ Triênio Liberal “, período que a Espanha teve uma constituição, mas o Rei Fernando VII, dá um golpe e restaurou um regime reacionário, os liberais foram expulsos, presos e alguns mortos. Ele já havia escrito o seu primeiro livro, e colaborava em jornais, com a ajuda da maçonaria consegue ser avisado da iminência da sua prisão e foge para salvar a cabeça.


Sem ter saída acaba desembarcando no Brasil, após passar por inúmeros portos da Europa e Estados Unidos, seu desembarque se deu no Rio de Janeiro, em 1828. Ele é admitido no serviço militar do Exército Imperial, e planeja fazer o dique da Ilha das Cobras, para melhorar o porto, as autoridades não ficam de acordo com as obras e retém seu diploma de Engenheiro Hidráulico, sim ele também era engenheiro hidráulico. Furioso ele escreverá seu único livro em português: “ O Manifesto da Conducta Militar “, e dedica-o ao Imperador Pedro I.


Em 1831 um barco inglês, o “Thetis “, afunda na costa de Cabo Frio, José Guasque tentará resgatá-lo, sem sucesso e pelo temperamento, que vai desenvolvendo cada vez mais, atazana a paciência do pobre capitão inglês. Três anos depois ele se envolverá com a tentativa de iluminação da cidade do Rio de Janeiro, muitas décadas antes do Barão de Mauá.

Já em 1838 ele começa a se desgostar e começará a fazer tratativas com os Farrapos, que haviam se declarados um país, aqui no Rio Grande do Sul. Ele será nomeado pelo próprio Bento Gonçalves, como está registrado no jornal de Rossetti.

Por ser maçon, ele faz parte de um nebuloso plano para arrecadar dinheiro junto aos confrades nos Estados Unidos e Europa, já que o império vinha fazendo uma campanha militar cruenta para sufocar a rebeldia. Ele também entrará em conflito com Garibaldi, Rossetti e Canabarro, e terá como interlocutor mais freqüente o ministro Domingos José de Almeida. Desgostoso com os rumos que as coisas estão tomando vai para Bagé, e dali para Cerro Largo, onde rompe com todos e se exila.

Nos próximos 10 anos ele irá se entediar e escrever tanto ao Governador da Província de Entre – Rios, o General Urquiza, quanto ao novo Imperador do Brasil, Pedro II, tecendo rasgados elogios ao pai dele.

Até que ele consegue regressar à Espanha, em 1850. Lá ele escreverá seu último livro, que assim como o primeiro se encontram na Biblioteca Nacional da Espanha, onde tratará das guerras e perda das colônias pela decadente Espanha.
Seu biógrafo, o professor espanhol Alberto Gil Novales, publicou um artigo pela Universidade Carolina de Praga, em 1970, intitulado “ El Periodista Liberal “, onde relata muitos aspectos de Don José Guasque.

A família permaneceu no Brasil, sua esposa falece viúva em Melo – Uruguai, já em 1867, nada sabemos da morte de Don Guasque.
Um de seus filhos será o médico homeopata Ignácio Guasque, que casará com Anna Luiza Romeiro Barcellos, em Bagé. Ele editará, em 1890, sua obra em Pelotas, o livro “ Medicina Homeopathica “, enquanto viveu em Jaguarão. Depois partiu para Castro no Paraná, sendo lá o primeiro a trazer a homeopatia, que tentava se firmar como método para o tratamento das doenças, para a discussão acadêmica, participando como convidado de uma revista especializada.

O neto de José, e filho de Ignácio, também médico homeopata, José Luiz Guasque casará com Aniceta Correa, em Cerro Chato – Uruguai, e terão vários filhos, passa por Jaguarão e se radica em Bagé, extremamente culto terá uma biblioteca com os clássicos, passa os dias clinicando e lendo, teria por hábito o de escrever nos seus diários, as passagens que mais gostava. Pai de muitas filhas, seriam 11, teve também 5 filhos homens. A matriarca, enfraquecida pelos diversos partos, delega as funções de dirigir a casa à filha mais velha, Ophinizia.

A segunda filha, Odalzira, casa e terá 4 filhos em escala de 1 por ano, ao engravidar pela quinta vez, fará um aborto às escondidas de todos, e deitará quieta, o pai ao se inteirar do acontecido, após um comício político que agitava a cidade, nada poderá fazer, sua filha irá morrer por hemorragia. As crianças ficam na casa para serem criadas pela Dinda, o cunhado tentará casar com ela, sem conseguir. Mais alguns anos ele tentará, e aí sim vai conseguir, com outra cunhada, Cecília ( Cica ) Guasque. Esta casa no mesmo dia de outra irmã, Orphelina, as duas saem juntas para duas igrejas distintas, a primeira casa na católica, e a segunda na anglicana, junta gente na frente da casa para verem as duas saírem vestidas de noiva. As duas serão parceiras em uma coisa, Cecília por estar casando com o marido da irmã não quer tirar fotos com o vestido de noiva, veste uma roupa depois da cerimônia e sai numa foto formal cercada pelos enteados, a outra irmã nem tirará fotos, por mais que peçam. Corria o ano de 1930.

Em algum momento da sua juventude em 1911, ela nasceu em 17 de agosto de 1897, em Cerro Chato, Uruguai, ela se deu ao trabalho de transcrever uma peça de Francisco Lobo da Costa, “ 27 de Janeiro ou os Blancos em Jaguarão – comédia drama em 3 actos “. O motivo pode ter sido copiar um manuscrito anterior da época que o seu avô morou lá, ou do seu pai. Mas o mais importante é que esta mulher teve a sensibilidade de nos deixar registrado esta obra. Em relação à Cecília o casamento foi um desastre total, os filhos não aceitaram a madrasta, a família foi morar na campanha, no campo que o marido tinha, os embates eram freqüentes e desgastantes, até que ela pede para que o marido tome providências, este diz um lacônico: “ os incomodados que se retirem”. Ela não pensa duas vezes, com o apoio das irmãs, que já estavam casadas, e principalmente daquela que havia casado no mesmo dia do seu casamento, que lhe compra os móveis da casa, faz o desquite e parte para nunca mais voltar rumo ao Rio de Janeiro.

Morreu octagenária, sendo cuidada por duas irmãs que também foram para lá. Mas o manuscrito sobreviveu.
Hoje sabemos que o poeta pelotense Francisco Lobo da Costa escreveu esta peça, que estava perdida, o manuscrito foi doado ao Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul ( Pça. da Alfândega – Porto Alegre ).

Há pouco tempo, fazendo pesquisa e reunindo material para a biografia de Don José Guasque, este manuscrito começou a despertar minha atenção, entrei em contato com a Prof. Beatriz Ana Loner, da UFPel, que por sua vez me colocou em contato com as Prof. Ângela Sapper Treptow, da UCPel, que prontamente reconheceu o texto como um inédito de Francisco Lobo da Costa, e a Prof. Alice Terezinha Moreira, da PUCRS.

Gerson Luis Barreto de Oliveira

Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo de Jaguarão




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